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terça-feira, 28 de julho de 2009

A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA NA VIDA SOCIAL


O tema família sempre esteve no centro de minha vida como o elo mais importante numa sociedade. Hoje, residindo nas imediações de uma escola, observo o comportamento rebelde de jovens estudantes que picham, diariamente, os muros das residências. Por vezes converso com eles na tentativa de compreender porque não apreciam a beleza, o encanto das casas bem pintadas, da cidade limpa, do visual bonito a enfeitar as ruas por onde transitam.

Nesses momentos, alguns são agressivos, proferem palavrões e ameaças. É um comportamento que assusta, põe medo, porque se observa, nesses jovens, a ausência da estrutura familiar. Para eles, uma senhora, um senhor, um marginal ou bandido, uma professora, todos são iguais. Nenhuma dessas pessoas, para eles, merece respeito. Isso é assustador. Embora se insista em pintar o muro da residência todo mês, eles persistem em pichá-lo todos os dias, como a demonstrar a tristeza do mundo escuro que carregam no interior de suas almas.

Então, esse artigo não é um apelo para que deixem de pichar os muros das casas. É um chamamento às famílias para cuidarem melhor de suas crianças. Deixá-los sozinhos é entregá-los à própria sorte, onde estão sujeitos aos mais áridos e angustiantes caminhos. E os pais devem propiciar aos filhos vida digna, dando-lhes apoio, educação, orientação.Pobreza não é sinônimo de desamor, pois há lares ricos em amor e escasso em dinheiro. Então, será melhor educar os jovens hoje ao invés de vê-los, amanhã, nas casas de apoio ao menor, em celas de presídios, com a vida perdida, sem sonhos, sem futuro.

E, neste texto reflexivo, buscam-se os diferentes significados do que seja família, a partir dela mesma. Procura-se identificar de que forma se processam as relações entre seus membros. Discutem-se, também, situações onde os vínculos familiares têm papel decisivo na vida das pessoas. Para esse propósito, é fundamental descrever elementos que permitam uma ampla compreensão da abrangência destes vínculos familiares.

Quando se discutem questões éticas relativas à família, alguns aspectos são fundamentais:
· Os membros da família não são substituíveis por similaridade ou por pessoas melhor qualificadas;
· Os membros da família são vinculados uns aos outros;
· A necessidade de intimidade produz responsabilidade;
· A existência de uma pessoa produz responsabilidades;
· As virtudes são aprendidas no colo da mãe e do pai;
· As famílias são histórias em andamento;
· Nas famílias os motivos contam muito.

Os membros das famílias, ao contrário dos funcionários de organizações ou outros tipos de vínculos, não são passíveis de serem substituídos por outras pessoas baseando-se no critério de qualificação. As organizações são estruturadas para atingirem uma determinada finalidade externa a elas. As famílias são um fim em si mesmas. Embora em situações de rearranjos familiares, tais como separações e novos casamentos, o impacto na vida dos seus membros é muito maior e mais profundo que o verificado nas organizações.

Por este motivo é que os programas de adoção buscam manter unidos os irmãos de uma mesma família de origem. Por este mesmo motivo, muitas pessoas adotadas ou geradas a partir de doação de gametas podem querer conhecer as suas origens biológicas. Os laços de família são sagrados, intrínsecos, intransferíveis.

Dessa forma, os membros da família são vinculados uns aos outros. Eles não são escolhidos, salvo as situações de casamento e adoção. As relações de parentesco se baseiam, além do afeto, em relações biológicas, políticas e históricas e não em cláusulas contratuais. Os irmãos têm vínculos biológicos entre si e com seus pais que em muito ultrapassam os limites de uma simples amizade. O mesmo acontece com os primos. Outros membros das famílias se agregam devido a novos vínculos que se estabelecem, através de relacionamentos afetivos, como por exemplo, em casamentos.

Assim, pessoas de famílias biológicas diferentes passam a constituir novas histórias compartilhadas, trazendo consigo todos os seus vínculos prévios, que podem facilitar ou dificultar o seu próprio relacionamento. Mesmo em situações onde, por questões de violência ou traição, rompem-se os vínculos sociais e afetivos entre membros de uma família, os vínculos morais permanecem.

Com isso, as virtudes são aprendidas no colo da mãe e do pai. A família é o primeiro e o mais importante elemento formador do referencial moral de uma pessoa. As famílias são comunidades morais. A formação da consciência da criança ocorre predominantemente na família. As pessoas desenvolvem-se, ao longo de toda a sua vida, por influência de amigos, da escola, do convívio social. Em todas estas situações as virtudes podem ser aprendidas, porém a família é a primeira comunidade moral que a maioria das crianças freqüenta.

Por isso, então, se diz que as famílias são histórias em andamento. Os membros de uma família são sempre influenciados pela história de seus familiares. As situações familiares são dinâmicas e não estáticas. Muitas vezes apresentam um padrão de funcionamento, mas mesmo este padrão pode ser alterado. As decisões familiares baseiam-se nesta noção de processo, de situações que se sucedem. O que garante a estabilidade de uma relação familiar não é a manutenção de um estado, mas sim a compreensão desta possibilidade de mudança.

Nessa direção, o escritor Charles Dickens, em seu livro David Copperfield, diz que "acidentes ocorrerão mesmo nas famílias mais ordenadas". Uma família baseada na noção de estabilidade estática (estado) poderá ter um abalo imprevisível, enquanto que outra que se tem por base um equilíbrio dinâmico (processo) terá possivelmente maiores condições de enfrentar, criativamente, este desafio. Habitualmente as pessoas seguem, sem questionar, a afirmativa de Leo Tolstoy, em Anna Karenina, de que "as famílias felizes são todas iguais, cada família infeliz é infeliz a sua maneira".

Assim, tanto as famílias felizes e infelizes o são de maneira diversa e particular. As famílias infelizes apenas despertam maior atenção, como se avistam nessas crianças revoltadas, debochadas, demolidoras da tranqüilidade das ruas e, conseqüentemente, destruidoras das próprias vidas. Falta-lhes FAMÍLIA, a unidade básica da sociedade, formada por indivíduos com ancestrais comuns ou ligados por laços afetivos. Então, que os pais cuidem melhor dos filhos, dê-lhes a formação do caráter e a educação que compete à família. Assim a escola terá sua tarefa facilitada: educar para a cidadania e para o progresso da nação. A sociedade viverá mais harmônica, sem a agressividade tão presente na juventude atual que compromete o futuro do país. É urgente fortalecer os laços de família.

POR QUE DEFENDER O USO DO GENTÍLICO ACREANO?

Este artigo objetiva trazer ao foco da discussão a defesa do gentílico acreano, cuja chama parece, hoje, apagada. Ninguém fala sobre o assunto, é um silêncio que dói na alma e lega à orfandade uma história de lutas, a adjetivação de um povo que elegeu o Acre para integrá-lo à pátria brasileira. Não somos um povo perdido, sem chão, mas uma heróica gente que escolheu sua pátria, assim como seu gentílico. Então, sejamos altaneiros em defesa do nome que designa às pessoas nascidas sob o brilho do sol, da lua e das estrelas que ornamentam o céu do Acre.

Compreendo que o gentílico acreano é forma consagrada pelo uso regional desde o século XIX. Por isso, retirá-lo do VOLP, por força do Novo Acordo Ortográfico, será contristar a comunidade regional na sua alma, além de apagar lindas páginas da epopéia acreana, ferindo tradições e costumes profundamente enraizados, desde a conquista deste solo. E a língua é a mais extraordinária engrenagem por onde circula a cultura de um povo.

Considero, também, que um gentílico não se muda por força de Acordo, Decreto, Lei. Um gentílico pertence à população do lugar, é nome sagrado que se guarda como um tesouro raro, que dá voz ao adjetivar um povo. E nesse particular, consagrou-se no meio lingüístico, em todos os tempos, as sábias palavras do grande gramático Fernão de Oliveira (1536) que “os homens fazem a língua, e não a língua os homens”.

Ademais, há consenso, entre os estudiosos, que os adjetivos gentílicos não seguem um padrão para as suas terminações. Essa ausência de padrão pode ser vista em nomes relativos às cidades. A maior parte deriva diretamente do nome do local, em sua forma corrente, ou então da etimologia toponímica. São exemplos que demonstram essa ausência de padrão: Lisboa: lisboeta, lisbonense, lisboês, lisbonês, lisbonino, olisiponense; Nova Iorque: nova-iorquino; Buenos Aires: bonaerense, buenairense ou portenho; Londres: londrino; Paris: parisiense.

Os exemplos denotam que não há na língua gentílico para todos os topônimos, mas há sempre a possibilidade de criá-los, com fácil aceitação geral. Ainda, é fato consagrado que quando um gentílico ganha força do uso ele se torna Lei. Um gentílico não se muda, ele está preso à vida, à alma do lugar, enraizado nas tradições, costumes. E a linguagem é o veículo tradutor de todo o arcabouço cultural de um povo, uma comunidade.

Para categorizar norma e uso, importante recorrer a autores consagrados, que ditaram rumos seguros para o trilhar de um idioma. O primeiro deles é Charles Bally, ao afirmar que uma palavra torna-se usual em duas oportunidades principais: 1) quando designa algo indissociavelmente ligado à vida de um grupo lingüístico; 2) quando dá a qualquer membro do grupo lingüístico a impressão de que isso não se diz assim, isso deve ser dito assim, isso aqui sempre foi e será dito assim. E mesmo que tais assertivas contradigam a expectativa de constante evolução da linguagem, elas se constituem em realidade absoluta, sem a qual seria impossível descrever um estado de língua.

O segundo teórico é o romeno Eugenio Coseriu, cuja preocupação não se resume em perguntar por que as línguas mudam, mas sim porque as mudanças ocorrem tal como ocorrem. E no espaço geográfico do Acre se impõe, por força do Acordo Ortográfico dos países lusófonos, a inovação acriano. Soa como uma imposição que a comunidade não aprecia escrever ou ouvir. Pois, em linguagem, o falante é soberano na liberdade expressiva de dizer do mundo, ainda mais daquele no qual está integrado. Acreano é uma variação regional, eleita pela população há 129 anos.

O terceiro deles é o gramático e filólogo Evanildo Cavalcanti Bechara --- a pessoa da Academia Brasileira de Letras que vai apreciar a matéria da mudança do gentílico --- homem extremamente sensível às questões de linguagem e, em especial, acolhedor das tradições. Em sua gramática (2001), quando se dedica a conceituar língua, trata de duas possibilidades: a língua histórica e a língua funcional. Assim, a língua seria um produto histórico e, ao mesmo tempo, uma unidade idealizada, devido à impossibilidade de alcançar, na realidade, uma língua que se quer homogênea, unitária.

O gramático também considera que a língua nunca é um sistema único, mas um conjunto de sistemas, que encerra em si várias tradições. Veja-se ser reconhecedor das tradições e, por conseguinte, um seguidor delas. E continua ele: " Uma mesma língua apresenta diferenças internas: no espaço geográfico, no nível sócio cultural e no estilo ou aspecto expressivo”.

Compreende-se, então, ser fundamental, no caso acreano, olhar dois lados: o histórico e o lingüístico. O histórico assegura a manutenção de acreano, pela consagração do uso da forma ao longo de 129 anos. Do lado lingüístico deve-se considerar que o próprio Acordo está repleto de concessões ou exceções que permitem dupla grafia, palavras com acento agudo ou circunflexo, palavras com consoantes mudas, entre as muitas quebras de unidade entre o cânone europeu e o brasileiro.

Feitas essas remissivas, julgo ser um grande desserviço à pátria brasileira, bem como nova injustiça contra o povo acreano, decorrido mais de um século de uso, considerar-se errado um gentílico conquistado, constituído como signo de origem e de destino de um povo que lutou para determinar seu futuro e eleger sua pátria. O Brasil deve sentir orgulho dos acreanos que construíram o Acre e o legaram à Pátria Amada.

A população acreana não almeja, hoje, ferir tratados, acordos, decretos. Deseja tão somente o respeito da nação por sua história e tradição, bem como o reconhecimento dos intelectuais, pelo viés histórico, na convalidação dos tratados internacionais e nacionais, do nome que vem impregnado de lutas, sangue, glórias. Acreano é o gentílico construído pela tradição do povo Amazônico do Acre. E, nesse sentido, nenhum Acordo é mais imperioso que os costumes, a história, a tradição do lugar.

LIÇÃO HUMANISTA SOBRE A INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA

O artigo desta semana é diferente. Presenteio os leitores com texto inédito do grande Senador da República, magnífico educador Cristovam Buarque, na ocasião Ministro da Educação. Homem simples, de rara inteligência e arguta sensibilidade, elevado grau de respeito ao país, é uma reserva moral que tem o Brasil. Bem poderia ser nosso presidente. Mas isso é outra história! Vamos ao que disse, naquele ano de 2000, numa universidade americana, quando instigado por um estudante, sobre a internacionalização da Amazônia. Perguntou-lhe o estudante: - O que o senhor acha da internacionalização da Amazônia? Responda-me como humanista e não como brasileiro.
Esta foi a resposta do Senhor Cristovam Buarque:
"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso! Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade. Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro.
Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as Reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre, por exemplo, não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.
Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua historia do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.
Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.
Nos seus debates, os atuais candidatos a presidência dos EUA tem defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia.
Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!".
São palavras de um brasileiro grandioso, homem de esmerada educação, grande senso de responsabilidade, conhecedor do mundo, defensor dos bens da humanidade. Imaginemos esse senhor Presidente do Brasil. Obrigada, Senador Cristovam Buarque!

domingo, 12 de julho de 2009

IDIOMA: FERRAMENTA ESSENCIAL NOMUNDO DO TRABALHO

Em tempos de acelerada globalização e de inglês como a língua franca para o acesso a prestígio e empregabilidade no mundo corporativo, é importante repensar o papel real que o bom domínio de Língua Portuguesa pode representar em tal cenário. Se saber inglês virou rotina e uma obrigação profissional, é necessário enfatizar que empresas de excelência, bem como caçadores de talentos desejam encontrar profissionais que saibam manejar bem o idioma pátrio. Ninguém deseja empregar uma pessoa que se expressa mal em seu idioma nativo. Por isso, utilizar bem a língua portuguesa é um diferencial competitivo para os profissionais das mais diversas áreas do conhecimento.
Parodiando o historiador inglês Theodore Zeldin, que escreveu, em seu livro Conversação, que à medida que se galga mais altos patamares no atual universo de trabalho mais se passa o tempo "conversando", pode-se afirmar, sem temor de exagero, que, do mesmo modo, quanto mais se ascende na escala profissional, mais se necessita do bom uso da língua materna, mais se passa o tempo lendo e escrevendo. A comunicação escrita, malgrado a oralidade de nossa cultura e o uso de meios como o telefone e os audiovisuais, termina por se impor ao trabalho cotidiano. Não é preciso apenas ler, mas igualmente escrever bastante, mesmo que para tanto ninguém cobre um estilo fluente e impecável.
O mundo corporativo e globalizado exige cada vez mais aprendizado intelectual, envolvendo participações e apresentações em cursos, congressos e seminários, além de publicações de toda ordem, não é difícil imaginar que o papel desempenhado pela língua tende a crescer e a se valorizar. O idioma é uma ferramenta de trabalho essencial. O erro de Português, além de vexatório, compromete a imagem de qualidade que qualquer profissional precisa transmitir.
Falar, escrever, comunicar-se bem será, cada vez mais, uma exigência cotidiana. Para quem quer começar, a saída está ao alcance da mão. Ler bastante é a regra principal. Além disso, há vários livros no mercado que ajudam na tarefa de manter o português sempre atual. A Internet também pode ser um bom ponto de partida. Há várias páginas na rede que relacionam os erros mais comuns, dão dicas de redação comercial e facilitam a vida de quem deseja ter mais intimidade com a língua portuguesa.
É preciso que os profissionais se desvencilhem de hábitos equivocados e de uma cultura que sempre consagrou a língua como algo para intelectuais, juristas e literatos. É necessário repensar a língua como o primeiro e grande instrumento de comunicação de que dispõe o ser humano. Pois a experiência mostra que, se se pensar assim, os ganhos podem ser imensos, evitando-se prejuízos, mal-entendidos e aborrecimentos. Nunca é tarde para alguém aprimorar-se no idioma nativo, tanto na feição escrita quanto oral. Cada pessoa pode desenvolver e lapidar o que "naturalmente" já traz colado à percepção do mundo: o idioma nativo.

DICAS DE GRAMÁTICA

A MORAL E O MORAL SÃO A MESMA COISA, PROFESSORA?
- Não! O moral diz respeito ao ânimo, à disposição e ao estado de espírito das pessoas: "o moral da classe estava baixo depois da prova de matemática", "o técnico melhorou o moral do time". A moral corresponde à ética, moralidade, lição, conduta: "seguia a moral religiosa", "entendeu a moral da história?"

O CASO DO MIM E DO EU, DO TU E DO TE, COMO USAR?
- É comum as pessoas dizerem: Este livro é para mim ler. Qual o equívoco? O certo é para eu ler. Simplesmente não observamos que o mim torna-se o sujeito de ler. Pelas leis da gramática, mim e te não funcionam como sujeitos da ação. Logo: Para eu fazer, para eu ler, para eu escrever. Mim e te não praticam ação. Logo, mim não passa no vestibular; mim não namora, mim não vai a jogo de futebol. Eu, sim, passo no vestibular. Estudo para eu passar no vestibular.
EM PRINCÍPIO E A PRINCÍPIO, QUANDO USÁ-LOS?
- a princípio: à primeira vista, logo a princípio, inicialmente, primeiramente, de início, de entrada, no começo, de começo [ou na gíria: "de cara"].
· Pensamos, a princípio, que se tratava de um animal pré-histórico, mas depois constatamos que era simplesmente uma espécie rara de predador.
· A princípio eu não sabia de nada, mas um dia ela me contou tudo.
- em princípio: em tese, em teoria, teoricamente, em termos, de modo geral; conforme Aurélio: "Antes de qualquer consideração; antes de tudo; antes de mais nada". O próprio dicionário deixa o significado mais claro no verbete ‘tese’: "Em tese. De acordo com o que se supõe; em princípio; em teoria".
· Vais assistir ao filme Bossa Nova conosco? – Em princípio, vou; mas dependo da confirmação de outro compromisso.
· Em princípio não estamos interessados em vender esse imóvel.

A PRECIOSIDADE QUE É O TEMPO

À medida que a gente vive é possível perceber a preciosidade que é o tempo. Esse tempo de vida, esse tempo que faz a vida. Não é fácil falar dele, porém, necessário se faz, pelo menos, pensar nele. Administrar o tempo não é uma questão de ficar contando os minutos dedicados a cada atividade. É uma questão de saber definir prioridades. E, hoje, numa sociedade complexa como esta em que se vive, NUNCA se tem tempo para fazer as coisas que precisam ser feitas. Então, administrar o tempo é ter clareza sobre aquilo que é prioritário, aquilo que é mais prioritário. E como fazer com esse tempo para se ter tempo para tudo que desejamos fazer?

O tempo não espera, a gente é que espera e olha ele passar por nós. Logo, se corremos no tempo, é fundamental priorizar tudo quanto se almeja fazer nele. Como distribuir esse tempo sem perder o tempo do tempo? Cada pessoa tem um mundo particular que precisa combinar com o mundo global, social em que vivem outras pessoas. E o problema maior dessas questões ligadas ao tempo surge, exatamente, quando consideramos importantes, mas não urgentes, as coisas que são urgentes, mas às quais damos pouca importância.

Imagine o leitor, primeiro lugar, que o mais importante da vida é o trabalho. Então, se o trabalho é mais importante, o problema do tempo está resolvido: a pessoa trabalha, mesmo que isso prejudique a convivência familiar. As conseqüências dessa escolha o tempo logo vai mostrar e a pessoa deve estar ciente da opção que fez. Ainda, a pessoa deve ter condições de reflexão. Tempo útil e tempo inútil são tempos diferentes, mas consomem tempo e vida.

Depois, imagine-se que o trabalho não é o mais importante. A importância maior está na família. Aí a pessoa dedica o tempo à família. As conseqüências logo virão: falta dinheiro para prover essa família. Agora, se o trabalho não é o mais importante, com certeza é urgente, pois sem ele não há como sustentar a família. Aqui começa o conflito entre o importante e o urgente. Também, o conflito entre aquilo que se gosta de fazer e aquilo que lhe é imposto. Quando se aceita um emprego, a pessoa está, na realidade, se comprometendo a ceder a outrem parte de seu tempo. Este é um problema real e de solução difícil: não somos donos de boa parte de nosso tempo.

Vê-se, de imediato, que administrar o tempo é ganhar autonomia sobre a vida. É essa uma batalha constante, que tem que ser ganha todo dia. Se a pessoa deseja ter a autonomia de decidir como empregar seu tempo, deve ter a sabedoria de dividi-lo, reparti-lo de forma a não sofrer conseqüências. Por isso, talvez, o tempo é distribuído, entre as pessoas, de forma bem mais democrática que muitos dos outros recursos de que nós dependemos. Todos os dias cada pessoa recebe exatamente 24 horas, nem mais, nem menos. Rico não recebe mais do que um pobre, professor universitário não recebe mais do que analfabeto, executivo não recebe mais do que operário.

Entretanto, apesar da democracia do tempo, algumas pessoas conseguem realizar uma grande quantidade de coisas num dia - outros, ao final do dia, têm o sentimento de que o dia acabou e não fizeram nada. A diferença é que os primeiros percebem que o tempo, apesar de democraticamente distribuído, é um recurso altamente perecível. Um dia perdido hoje -- perdido no sentido de que não realizei nele o que precisaria ou desejaria realizar -- não é recuperado depois: é perdido para sempre. Quando o nosso tempo termina, acaba a nossa vida. Não há maneira de obter mais. Por isso, tempo é vida. Quem administra o tempo ganha vida, mesmo vivendo o mesmo tempo. Prolongar a duração de nossa vida não é algo sobre o qual tenhamos muito controle.

Concluindo, por agora, diz-se haver os que afirmam, hoje, que o recurso mais escasso na nossa sociedade não é dinheiro, não são matérias primas, não é energia, não é nem mesmo inteligência: é tempo. Mas tempo se ganha, ou se faz, deixando de fazer coisas que não são nem importantes nem urgentes e sabendo priorizar aquelas que são importantes e/ou urgentes. Há muitas pessoas que estão o tempo todo ocupadas exatamente porque são improdutivas - não sabem onde concentrar seus esforços e, por isso, ciscam aqui, ciscam ali, mas nunca produzem nada. Ser produtivo é, em primeiro lugar, saber administrar o tempo, ter sentido de direção, saber aonde se vai. Administrar o tempo, em última instância, é planejar estrategicamente a vida.

DICAS DE GRAMÁTICA
Ao fim e ao cabo, quando usá-los?
- Usá-los segundo o sentido. Ao final quer dizer "afinal, depois de tudo".
Ao cabo, significa término, fim, limite. Assim, usa-se "ao cabo" junto com "ao fim" apenas como um reforço, para enfatizar que é bem no fim mesmo!
Câmera ou câmara?
- Tudo pode ser câmara: assembléia, junta, conselho, recinto, compartimento, máquina de filmar e de fotografar, o cinegrafista, etc. No grego e no latim a palavra é escrita com A. Acontece que na área de cinema, fotografia e TV, por influência talvez do inglês, idioma em que diz "camera, cameraman", costuma-se usar também a grafia câmera.

Qual a diferença entre as palavras darmos e dar-mos?
- DARMOS se escreve junto e se refere ao verbo "dar" na 1ª pessoa do plural do infinitivo (flexionado), com a desinência "mos": Disse para (nós) darmos nossa opinião. Convém falarmos baixo. Para acertarmos as contas, precisamos nos reunir.
- DAR-NOS – com N, se refere ao pronome oblíquo NOS, que quando vem depois do verbo (ênclise) se separa com hífen. Exemplos: Ela já comprou o presente que quer dar-nos no Natal. [dar-nos = nos dar] Ele vem falar-nos sobre deveres e direitos. [ou: vem nos falar] Pelo jogo, nossos adversários devem acertar-nos somente nas pernas.






MISTÉRIOS DA PALAVRA SAUDADE



Perguntou-me um acadêmico, certa vez, se a palavra saudade existe apenas no português ou é conhecida também em outras línguas. Respondi-lhe daquilo que sabia, que saudade veio do latim solitas, solitatis, por meio das formas arcaicas soedade, soidade e suidade, sob a influência de saúde e saudar (ver o Caldas Aulete e o Aurélio). Solitas, em latim, significa “solidão”, desamparo”, “abandono”, “deixação” (Saraiva, Novíssimo Dicionário Latino-Português), do que resultam alguns dos significados que tem saudade: “desejo de um bem do qual se está privado”; “lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las”.

Ao que parece, essa forma, com o mesmo significado, não é encontrada em outras línguas românicas. Quanto a ser exclusividade do português nada podemos dizer, se não que outras línguas podem expressar a mesma idéia de “saudade”, mas com mais de uma palavra. As línguas descrevem de forma diferente a realidade e os sentimentos, que também podem não ser os mesmos nos diversos povos. Cada povo vê os fenômenos do mundo da mesma forma que os outros, mas “interpreta” tudo isso de forma diferente, conforme as estruturas de sua cultura, ou seja, a concepção das coisas do mundo por um povo tem relação com a sua cultura e língua e é, de certa forma, refletida nesta, tanto no aspeto semântico quanto no gramatical.

Um exemplo bem conhecido dessa relação entre a língua e as concepções dos falantes é o das palavras que designam termos correlatos como frio, gelo, neve etc.: enquanto os astecas tinham apenas uma palavra para designar esses conceitos, os esquimós têm mais de dez termos para designar gelo e neve, especificando matizes de cor e pormenores do estado sólido da água que outro povo não distingue. Isso ocorre também com as cores: em muitas línguas do ocidente, como o português, o azul e o verde distinguem-se como cores diferentes; já para os falantes do guarani e do tupi (segundo o que consta, também os do japonês) o azul e o verde, que nós temos como cores distintas, são apenas matizes de uma mesma cor. Nas línguas indo-européias (neolatinas, germânicas, eslavas etc.) faz-se distinção muito nítida entre pai e tio, entre mãe e tia; no tupi, porém, o pai e os irmãos homens deste eram designados pela mesma palavra, ocorrendo o mesmo com a mãe e suas irmãs: sy, portanto, pode ser tanto “mãe” como “tia materna”; tuba, tanto “pai” como “tio paterno”. Só se compreende esse uso dos termos referentes às relações de parentesco por meio do exame dessas relações na vida social do grupo em questão.

Por tudo isso, o fato de uma língua não ter palavra que, por si mesma, possa traduzir-se por “saudade” não significa que o povo que a fala não conheça tal sentimento: tal conceito pode ser, nessa língua ou em outras, expresso por mais de uma palavra. Além disso, um povo pode conceber a idéia de “saudade” em combinação com outro(s) sentimento(s), do que resulta novo conceito, veiculado por uma ou mais palavras. Diz o professor Napoleão Mendes de Almeida no verbete “Saudade, saudades” de seu Dicionário de Questões Vernáculas: “a capacidade de receber impressões é uma só na humanidade; não existe rigidez filológica capaz de obumbrar o sentimento de uma nação. Cremos ser procedimento psicofilológico correto este de aceitar em outros idiomas, ainda que não se conheçam, a existência de equivalências a palavra e a expressões nossas; que orgulho é este de achar que outros povos não vivem?”

No que toca ao uso de saudade, temos que essa palavra pode aparecer tanto no singular quanto no plural, conservando o mesmo sentido, o que ocorre também com parabéns, pêsame, felicitação, felicidade e outras palavras, que pouco a pouco passaram a ser usadas no plural, muito embora o singular, com o mesmo sentido, também seja correto. Quando usada a palavra saudade com possessivos, a posição destes implica mudança no sentido da frase, como vemos nas orações “Senti saudades suas” e “Tais são suas saudades”. A primeira significa o mesmo que “Senti saudades de você”, enquanto a outra tem o sentido de “Tais são as saudades que você sente”.





COMO NASCEU O AMOR ROMÂNTICO

A pergunta que se faz não interessa a muita gente. Mas refletir sobre ela faz lembrar que o Amor nunca é demais e que as pessoas devem se amar mais e melhor em cada novo dia, dando maior sentido à vida. Essa motivação deve povoar qualquer terra em que os seres humanos amem, bem como qualquer tempo onde as pessoas sonhem. Deve habitar a vida.

Refletindo sobre a questão andei por muitos lugares procurando uma resposta. Apelei para os historiadores, li sobre o amor através dos tempos e, seguindo, passo a passo, a construção da civilização ocidental, estudei o amor entre os Gregos, o amor entre os Romanos, o amor entre os Judeus. Entrei no cristianismo e li o amor na ótica de Agostinho, Jerônimo e Tertuliano, e me vi na Idade Média e lá contemplei o amor dos plebeus e dos nobres, e até o amor escondido nos conventos. Depois, saí pelos castelos acompanhando os trovadores e vi nascer entre eles o amor cortesão, onde só os filhos primogênitos se casavam por causa das heranças, que não eram divididas. Assim, sobravam vários jovens solteiros que se apaixonavam pelas damas e que só podiam viver um amor idealizado, logo sofrido.

Também, notei que o amor se fez ridículo, desprestigiado, tanto que na Idade da Razão ele fora reduzido à mera sensualidade. Seduzia-se pelo prazer de seduzir e não necessariamente pelo prazer do amor. Foi ali que encontrei Giovani Jacopo, Casanova e Don Juan Tenório de Servilha, o célebre Don Juan, personagem encantador da comédia de Tirso Molina, no século XVII. Nasceu, nesta esteira, no Ocidente, o amor romântico, tendo por base um conjunto de práticas que povoam as mentalidades amorosas desde o século XII, quando surgiu o amor cortês. Entre elas estão: a não aproximação dos corpos, comunhão de almas propostas pelo cristianismo, idealização do bem amado, abdicação ao amor a si próprio, completa fidelidade. A principal característica é amar o ato de amar, ou seja, amar o amor e não um outro, não importando possuir o objeto de amor, mas sim o sofrer e até o morrer por amor. Antes, as pessoas não casavam por amor. Isso é uma coisa recente, uma vez que o casamento era algo muito sério para se misturar com amor.No século XVII o amor chegou com novo alento. Trazia sonhos e fantasias. Era o amor romântico, o amor de Pierrot e Colombina, Romeu e Julieta, o amor de Tristão e Isolda, todos rígidos e marcados por impossibilidades. Quanto mais obstáculos a transpor, mais apaixonado ele se torna. Entretanto, em um determinado momento, interesses econômicos introduziram esse tipo de amor no casamento, transformando toda a sua história. A chegada do amor romântico fez do casamento o meio para as pessoas realizarem suas necessidades afetivas.
Até a Revolução Industrial, no final do século XVIII, as pessoas moravam mais no campo, junto a vários outros membros da família, o que fazia com que sentissem afetivamente amparadas. Os casamentos aconteciam por razões econômicas e políticas. Por isso duravam a vida toda. Não havendo romance nem expectativa de satisfação sexual, não havia decepções, e ninguém pensava em se separar.

Mas as fábricas e os escritórios que surgiam foram atraindo os homens para trabalhar nos centros urbanos. Nasceu, então, a família nuclear - mãe, pai, filhos - agora sozinhos na cidade. Para que o casal suportasse viver assim, longe daqueles com quem tinha laços afetivos, inaugurou-se o amor romântico no casamento.

O modelo de amor romântico, cuja paternidade foi atribuída a Rousseau, consistia em um projeto amoroso que era também uma proposta filosófica e política para a sociedade burguesa em ascensão. Na visão rousseauniana, o amor apaixonado devia ser a base da construção da família, pilar da sociedade. Assim, o ideal de amor romântico integra a sexualidade natural do homem com o amor e o casamento, propondo um amor recíproco e indissolúvel, cuja finalidade última é a felicidade. O amor deve ser exclusivo e eterno para garantir a estabilidade da família e levar adiante o projeto político. O amor romântico integra a natureza humana com os objetivos da sociedade política, pondo as paixões a serviço da comunidade e da vida pública.

Ao concluir, observe o leitor haver muito para ser dito. Há uma tese interessante do suíço Rougemont, onde ele afirma que a idéia do amor romântico nasceu no Ocidente, no século XII, do encontro entre a poesia trovadoresca e o pensamento de uma seita herética. Válida ou não, interessante ler e, também, mergulhar no mito de Tristão e Isolda, nos filmes hollywoodianos, passando por Shakespeare, Mozart e Freud, enfim, perceber o que dizem sobre o amor romântico, um amor que embala a vida de tantas pessoas e que o mundo moderno parece ter devorado. Mas tanto o amor cortesão quanto o amor romântico são invenções da cultura, e como a cultura muda com o tempo, uma concepção de amor que foi boa em determinada época pode se tornar anacrônica e até ridícula em outra. Importa perceber que o Amor é plural e não singular e que há inúmeras formas de amar, tantas quantas culturas existem no mundo.
DICAS DE GRAMÁTICA
RESIDENTE À / NA RUA XV?
A rigor, como os verbos morar, residir, situar, localizar e semelhantes regem a preposição em, deveria se usar na e não à nos casos específicos. Tudo bem, tanto é que se fala assim:
- Residimos na rua Tupi. - A casa está situada na avenida dos Guararapes. - Você ainda mora na mesma travessa? - A sede do Partido se localiza na rua XV.
Mas, por obra do dinamismo da língua, incorporou-se à escrita o emprego de à no lugar de na como complemento de tais verbos diante de logradouros como rua e avenida. O mesmo acontece com seus derivados morador, residente, domiciliado:
- Residente à rua XV.
- Manoel Silva, morador à rua Bosque, requer...
- Vende-se casa (situada/sita) à Avenida Nações Unidas.
- Aluga-se imóvel (localizado) à Av. Getúlio Vargas.
GRAFIA DAS HORAS
- A grafia que deve ser adotada em jornais, sentenças, acórdãos, convites, convocações, cartazes e coisas do gênero é a seguinte: - Hora redonda: às 8 horas ; 10 horas ou 10 h [abreviação sem ‘s’ e sem ponto];
- Hora quebrada: às 8h35min; 10h05min; 10h35 [sem dar espaço entre os elementos]- A grafia por extenso – que é menos visual – se reserva para convites formais como o de um casamento: A cerimônia será realizada às dez horas do dia vinte de maio.

A TRAIÇÃO NA CULTURA BRASILEIRA


O comportamento humano é mutável de uma cultura para outra. Há povos que aceitam a poligamia, outros não. Também há comunidades onde um homem pode conviver com mais de uma mulher, ou uma mulher com mais de um homem, ao mesmo tempo, sem cometer adultério. Já em outras culturas as relações mantidas fora do casamento ganham o nome de traição, adultério. O que vem a ser, então, traição e adultério?

A palavra traição, do lat. traditione, entrega, segundo o dicionário de Aurélio Buarque significa:1.Ato ou efeito de trair (se). 2. Crime de quem, perfidamente, entrega, denuncia ou vende alguém ou alguma coisa ao inimigo. 3. Perfídia, deslealdade, aleivosia. 4. Infidelidade no amor. Logo, uma pessoa que trai outra, no casamento, comete adultério. E, assim, atenta contra os costumes do lugar.

O adultério, do latim adulterui, no Brasil, significa infidelidade conjugal, amantismo, prevaricação. E, segundo o Art. 240 do Código Penal Brasileiro, o adultério ainda é um crime contra a família e o casamento. Se um dos cônjuges mantém relação sexual com uma terceira pessoa, fica sujeito a uma pena de quinze dias a seis meses de detenção. Para enquadrar o(a) parceiro(a) nesta lei, o(a) traído(a) deve ter provas do flagrante e denunciá-lo(a) no prazo máximo de um mês. A traição pode ser o motivo de uma reparação de dano moral.

Dada a definição dos termos, não se pode confundir traição e adultério. O adultério é caracterizado pela infração ao dever de fidelidade recíproca no casamento e constitui não só crime previsto no Código Penal Brasileiro, como também dá motivo à separação judicial, na órbita civil. O adultério consuma-se com a prática do inequívoco ato sexual. O art. 2º, da Lei nº 9278, de 10/05/96, estabeleceu direitos e deveres iguais para os conviventes, ou seja, para aqueles que vivem em união estável (não casados). No entanto, não há adultério na união estável.

Diferentemente, a traição possui conceito mais amplo, não se restringindo ao casamento, à união estável, ao ato sexual consumado, mas a todo o relacionamento humano, como nas amizades, negócios, política, guerras etc. O art. 159, do Código Civil Brasileiro, adverte: “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”. O dano é tratado em sentido amplo, ilimitado, irrestrito.
Vê-se, então, que a traição fere os direitos concernentes aos valores próprios do ser humano, que se projetam nos sentimentos. A violação das obrigações oriundas do casamento ou da união estável acarreta prejuízo moral ao cônjuge ou ao convivente; enquanto a traição resulta em dano moral, quando leva o nome do(a) traído(a) a situações embaraçosas, vexatórias.

Nesse campo da traição há algo novo do “ar”. A partir de 2.001, se alguém quiser trair a esposa ou o marido, mesmo pela Internet, é melhor tomar cuidado. A traição pode custar caro. O novo Código Civil Brasileiro está se aprimorando, com várias novidades. Uma delas é a obrigatoriedade de indenização para a pessoa traída, mesmo que tenha sido uma traição virtual, ou pelos sites de bate-papo. Com isso, desamor e traição no casamento podem gerar indenização para a pessoa prejudicada.

Na cultura brasileira, repressora e patriarcal, a traição é mais comum entre homens -- embora as mulheres a escondam melhor -- que são educados para não desperdiçarem nenhuma oportunidade de demonstrarem a masculinidade, muitas vezes confundida com o desempenho sexual. Apesar de condenada pela igreja, a infidelidade masculina foi aceita socialmente, com a velha e boa desculpa de instinto do “macho”. Por isso, talvez, na jurisprudência brasileira, o homem, quando trai não perde nada. Já a mulher, pode até perder a guarda dos filhos e o direito a pensão.

De tudo aqui posto, há um princípio universal e seguir: o respeito à dignidade humana. Pois tanto a traição quanto à infidelidade atentam contra as normas do bom viver. Trair é enganar, atraiçoar, denunciar, delatar, ser infiel. A traição e a infidelidade geram dor, angústia, sofrimento, desgosto, revolta, constrangimento. Traição e infidelidade são ofensas graves, ferem os direitos concernentes aos valores próprios do ser humano, que se projetam nos seus sentimentos. E, num respeito à vida, ao outro, o dever de cada um é não trair, não ser infiel. E, assim, se terá uma boa base à construção da felicidade.

DICAS DE GRAMÁTICA
COMO EMPREGAR "ESTA" e "ESTÁ"; HOUVE e OUVE, PROFESSORA?
Da seguinte forma:
Esta caneta que está aqui é sua?
Esta - pronome demonstrativo, pois indica o lugar ou a posição dos seres e objetos em relação à pessoa que fala.
Está - verbo estar - indica um estado ou qualidade.
Observe o uso:
a. Esta casa é minha.
b. Minha casa está pintada de azul.
c. Esta é a pessoa da qual falei.
d. A pessoa da qual falei está vestida de azul.
Houve e Ouve
Observe: Houve um tempo em que ele ouvia as pessoas.
Ouve: verbo ouvir, escutar.
Houve: verbo haver, no sentido de acontecer, existir, sair-se bem ou mal.
Observe o uso:
a. Fale mais alto. Ele não ouve muito bem.
b. Em 1865 houve uma guerra entre o Brasil e o Paraguai.
c. Ele se houve muito bem nas últimas provas.
d. Fale mais perto e baixinho, senão ela ouve o segredo.

A vida da gente é feita assim: um dia o elogio, no outro a crítica. A arte de analisar o trabalho de alguém é uma tarefa um pouco árdua porque mexe diretamente com o ego do receptor, seja ele leitor crítico ou não crítico. Por isso, espero que os visitantes deste blog LINGUAGEM E CULTURA tenham coerência para discordar ou não das observações que aqui sejam feitas, mas que não deixem de expressar, em hipótese alguma, seus pontos de vista, para que aproveitemos esse espaço, não como um ambiente de “alfinetadas” e “assopradas”, mas de simultâneas, inéditas e inesquecíveis trocas de experiências.