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quarta-feira, 19 de outubro de 2016

O PORTUGUÊS DO BRASIL: PROIBIÇÕES E HERANÇAS




O idioma português chegou ao território brasileiro a bordo das naus portuguesas, no Século XVI, para se juntar à família linguística tupi-guarani, em especial o Tupinambá, um dos dialetos Tupi. Os índios, subjugados ou aculturados, ensinaram o dialeto aos europeus que, mais tarde, passaram a se comunicar nessa “língua geral” - o Tupinambá. Em 1694, a língua geral reinava na então colônia portuguesa, com características de língua literária, pois os missionários traduziam peças sacras, orações e hinos, na catequese.
Com a chegada do idioma iorubá (Nigéria) e do quimbundo (Angola), por meio dos escravos trazidos da África, e com novos colonizadores, a Corte Portuguesa quis garantir uma maior presença política. Uma das primeiras medidas que adotou, então, foi obrigar o ensino da Língua Portuguesa aos índios.
Lei do diretório - Em seguida, o Marques de Pombal promulgou a Lei do Diretório (1757) que abrangia a área compreendida pelos estados do Pará e do Maranhão, um terço do território brasileiro de então. Esta lei considerava a língua geral uma “invenção verdadeiramente abominável e diabólica” e proibia às crianças, filhos de portugueses, e aos indígenas aprenderem outro idioma que não o português.
Em 1759, um alvará ampliou a Lei do Diretório: tornou obrigatório o uso da língua portuguesa como idioma oficial em todo o território nacional. Portanto, ao longo de dois séculos, o Brasil possuiu dois idiomas: a língua geral ou tupinambá e o português.
Português no mundo - Hoje, o mundo que fala português (lusófono) soma cerca de 240 milhões de pessoas. É o oitavo idioma mais falado no planeta e a terceira entre as línguas ocidentais, após o inglês e o castelhano. É, ainda, o idioma oficial de sete países, todos eles ex-colônias portuguesas: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe.
Os indígenas – legaram muitas palavras ao português brasileiro ligadas à fauna, flora, toponímia, tais como: - Oi: saudação tupi; Pererê (forma apocopada de perereca – pere’eka = ir aos saltos): aquele que anda pulando, vindo daí o personagem saci-pererê, que possui uma única perna; Pororoca/peruruca (apopora/poporak = pular): pipoca; fenômeno da região amazônica, quando o rio Amazonas se encontra com o mar;Sururu (seru’ru = mexilhão): mexilhão; revolta, motim; Tapera (taba = aldeia + puera = o que foi): aldeia abandonada; casa em ruínas;Tiririca (aimotyryryk = arrastar): planta que se espalha; Diz-se também da pessoa que ficou zangada, enfezada.
Os africanos - contribuíram com muitas palavras, tais como: Divindades, conceitos e práticas religiosasOxalá, Ogum, Iemanjá, Xangô, pombajira, macumba, axé, mandinga, canjerê, gongá (ou congá); Comidas e bebidasQuitute, vatapá, acarajé, caruru, mungunzá, quibebe, farofa, quindim, canjica e possivelmente cachaça; Topônimos, isto é, nomes de lugares e locais Caxambu, Carangola, Bangu, Guandu, Muzambinho, S. Luís do Quitunde; cacimba, quilombo, mocambo, murundu, senzala; Roupas, danças e instrumentos musicaisTanga, miçanga, caxambu, jongo, lundu, maxixe, samba, marimba, macumba (antigo instrumento de percussão), berimbau; Animais, plantas e frutosCamundongo, caxinguelê, mangangá, marimbondo, mutamba, dendê, jiló, quiabo; Deformidades, doenças, partes do corpoCacunda, capenga, calombo, caxumba.
Os italianos – muitas palavras, como nos poucos exemplos: Lasanha: lazanha/lasanha; Nhoque: nhoque/ nhioque; Espaguete: spaguetti/espaguete/ spaghet; Muçarela: mussarela/musarela/muzzarella; Pizza: piza; Talharim: taglierini; Ravióli: ravióli; Panetone: panetone, Cantina,Caricatura, Fiasco, Bravata, Poltrona, Alegro, Aquarela, Bandolin, Camarim.
Os franceses: Restaurante,Manchete, Garçon,Vernissage, Echarpe, Tricô, Abajur,  Chofer,  Butique,  Laquê, Bisturi, Bureau, Buquê, Boné, Toalete, Purê, Cabaré, Cabina, Cachecol, Buffet,  Buquê, Bidê, Bibelô, Avalanche, Paletó, Pane, Pasteurizar, Pivô, Placar, Plaqueta, Platô, Plissado.
Os espanhóis – Cavalheiro, Lhano, Airoso, Cabecilha,Caudilho, Guerrilha,Ganadaria, Bandarilha, – Muleta, Faina, Trecho,Tijolo, Moçoila, Hediondo, Moreno.
Os gregos - há inúmeras palavras de origem grega usadas no dia-a-dia: autóctones, crônica, demônio, fantasma, órfão, salamandra, bolsa, corda, caixa, ermo, golfo, gruta, tio, anjo, bispo, crisma, diabo, esmola, igreja, mosteiro, farol, guitarra, falange, gesto, sugestão, tigela, cara, calma, governar, alergia, gravador, eletrônica, filosofia, biologia etc.
Os árabes - naquilo que toca à significação dos arabismos do português, apontam-se as seguintes categorias semânticas: 1) designações de cargos e dignidades: alcaide, alferes, almoxarife; 2) termos castrenses: arraial, arrebate, alcácer, alcáçova, atalaia; 3) de administração: aldeia, arrabalde, alfoz; alfândega, alvará, almoeda; 4) de plantas cultivadas e silvestres: arroz, algodão, alcachofra, cenoira, laranja, açúcar, alfarroba, alecrim, açucena, alfazema; 5) de profissões e indústrias: alfaiate, alveitar, almocreve, alvanel, algoz, azenha, atafona, adobe; 6) de unidades de medida: almude, arrátel, alqueire, arroba; 7) de animais: atum, alcatraz, alforreca, alacrau, javali, 8) de particularidades topográficas: albufeira, alverca, algar, lezíria, recife; 9) de artigos de luxo e instrumentos de música: almofada, alcatifa, marfim, alfinete, adufe, rabeca, anafil, alaúde; 10) de produtos agrícolas e industriais: azeite, álcool, alcatrão; 11) da vida pastoril: zagal, alfeire, rês, tabefe, almece; 12) de arquitetura: aljube, chafariz, açoteia, alvenaria; 13) das ciências exatas: algarismo, álgebra, cifra, auge, etc. Há, também, o adjetivo <>, o pronome indefinido <>, a interjeição <>, a preposição <>.
Os alemães - O nosso chope de cada dia não tem a ver, na sua etimologia, com a palavra cerveja, tratando-se de uma unidade de medida originada do alemão Schoppen, equivalente a cerca de meio litro.
Avista-se, então, que a globalização não traz nenhum prejuízo a nenhum idioma. Pelo contrário, transporta um grande enriquecimento. Uma língua falada ganha muita dinamicidade, que deve acompanhar a vida das pessoas, nas suas mudanças e transformações no curso do tempo. Assim como as pessoas empreendem viagens, assim também a língua. Se o idioma fica parado, estático, ele fenece, morre. A dinamicidade da vida, a modernidade do mundo, colocam as pessoas, as culturas, as línguas, num circuito global, daí os empréstimos de um idioma para outro.

DICAS DE GRAMÁTICA

 “AO NÍVEL DE” ou “EM NÍVEL DE”, PROFESSORA?
- AO NÍVEL DE significa “à mesma altura”, como no exemplo “A cidade do Rio de Janeiro fica ao nível do mar, enquanto Brasília é mais alto”
- EM NÍVEL DE é o mesmo que “no âmbito de” e indica escopo. Exemplo: “A decisão foi tomada em nível de direção, não cabe recurso”
Dica: por favor, aprenda que não existe a expressão a nível de” como muitos gostam de falar por aí.

OLHAR CIENTÍFICO E IDEOLÓGICO SOBRE O IDIOMA PORTUGUÊS




Sempre penso o quanto é difícil falar sobre ensino e gramática da língua portuguesa. Digo isso porque muitos professores fazem do ensino gramatical um verdadeiro calvário para os estudantes. Querem que decorem regras, o que é muito complicado e pouco produtivo. Essa metodologia induz o estudante a odiar o ensino gramatical e, por conseguinte, o professor. Mas não deve ser sempre assim e, por isso mesmo, os estudos não podem parar, é preciso divulgar alguns pensamentos  assentados em pesquisas, com fundamentação teórica alternativa, sem deixar, todavia, de ser consistente, sem o que seria impossível, inclusive, escrever este texto.
  Defende-se o ensino da gramática para o desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita, em todas as disciplinas, para o sucesso do ensino em todas as áreas do conhecimento. Escuta-se, dos professores de ciências exatas, por exemplo, que a grande dificuldade dos alunos não é o conteúdo em si, mas a compreensão dos enunciados. Isso implica, logicamente, no problema de leitura que passa, certamente, pelos caminhos da gramática da língua. Portanto, essa reflexão se pautará nos seguintes conceitos políticos correntes de gramática, tal como são traduzidos por Sírio Possenti  (POSSENTI, 1983):
1.    Gramática – conjunto de regras para quem quer falar e escrever corretamente; (corresponde à gramática normativa).
2.     Gramática – conjunto de regras sistematizadas por um teórico a partir da coleta e análise de dados de uma determinada variedade linguística; (corresponde à gramática teórico-descritiva).
3.    Gramática – conjunto de regras utilizadas pelos falantes para atender as necessidades de interação. (corresponde à gramática implícita ou internalizada por cada falante).
  Sabe-se que todo o ensino da gramática está assentado sobre o “falar e escrever corretamente” e nas descrições metalinguísticas da gramática teórico-descritiva. Ensinar a falar e a escrever, corretamente, seria aprender as regras da gramática normativa e um rol de nomenclaturas. A gramática implícita é considerada um conjunto de desvios, uma vez que não atende às regras pré-estabelecidas nas gramáticas 1 e 2. Saber português, pois, é saber regras de acentuação, ortografia, reconhecer categorias gramaticais e funções sintáticas, dentre outros aspectos. Diante dessas considerações, essa abordagem está centrada em duas perspectivas: a científica e a ideológica.
a)    Do ponto de vista científico – a gramática normativa é conjunto de regras para o bem falar e escrever, que são avaliações subjetivas, porque em nenhuma outra ciência se encontra tal modelo de avaliação. Imaginem um biólogo dizendo que as células humanas são boas e as células de uma vaca não são, ou um geógrafo dizendo que um continente é melhor do que outro. No mínimo, a pergunta a ser feita é: o que é falar e escrever bem?
O falar em si atende à necessidade que todo falante tem de interagir com outro, constituindo uma prática social própria de todas as comunidades humanas. Logo, falar e escrever bem, mesmo apoiando-se nos “grandes escritores”, não é corroborado pelos princípios científicos. Uma atualização do conceito de gramática normativa deveria ser “um conjunto de regras de uma variedade linguística, a padrão, para fins pedagógicos”.
A gramática descritiva, ainda bastante presente no conteúdo de ensino língua portuguesa, nas escolas, é o resultado de uma metodologia fundamentada em  determinadas correntes de investigação sobre a linguagem: comparativismo, estruturalismo, gerativismo, funcionalismo. Todo objeto de investigação é descrito através de uma linguagem especializada, a descrição gramatical caracteriza-se, também, por uma metalinguagem.
b)   Ponto de vista ideológico - Olha a gramática numa perspectiva ideológica, na busca de identificar quem produz o discurso e para quem ele se destina. Assim, esse modelo de estudo separa o uso do padrão culto da língua de outros padrões linguísticos menos privilegiados. Todavia, aqui, a separação entre a variedade culta ou padrão das outras é tão profunda devido a vários motivos. A variedade culta é associada à escrita, à tradição gramatical, é inventariada nos dicionários e é portadora legítima de uma tradição cultural e de uma identidade nacional. Existe, aqui, o padrão coloquial e popular, a depender da camada social. Mas nisso tudo entra a norma padrão para disciplinar, não deixar que as pessoas transformarem a língua numa barbárie.
A vinculação da gramática à escrita diz respeito a uma tradição que consiste no registro e sistematização de uma variedade eleita como padrão pela classe que detêm o poder, e cujo objetivo é a comunicação entre os membros dessa classe, através de um código específico que exclui a classe estigmatizada de dominada. O argumento utilizado para justificar a gramática é a legitimidade dos valores de uma cultura que caracteriza uma identidade nacional. Por isso talvez, numa pesquisa realizada por pesquisadora da Universidade Federal Fluminense - UFF, para saber qual a língua padrão brasileira, obteve como resposta a variante do Jornal Nacional. É um tipo de linguagem correta, porém objetiva e precisa que todas as camadas da sociedade entendem.
Os discursos sobre a gramática implícita também têm um cunho ideológico. Os alunos das classes menos favorecidas aprendem a variedade não padrão, conhecendo, portanto, uma gramática que não está de acordo com o padrão linguístico estabelecido. Dessa forma, os conceitos certo e errado passam a prevalecer no espaço escolar, quem não fala como o padrão estabelecido fala errado, ou seja, a grande maioria do povo.
Essas considerações servem, ao menos, para dizer que será a leitura e a escrita que ajustarão o uso das variedades linguísticas e também conduzirão os falantes à compreensão de quando empregar uma ou outra forma. É por meio da leitura/escrita que se exercitam as normas gramaticais e os padrões linguísticos de qualquer idioma.

DICAS DE GRAMÁTICA
Uso de “A” ou “HÁ”.
- O indica tempo que já passou, como no exemplo: “Eu parei de fumar algum tempo”.
- O A indica o tempo que ainda vai passar, como no exemplo: “Daqui a alguns anos, eu morrerei”.
Dica 2 – Uso de “A CERCA DE”, “HÁ CERCA DE” ou “ACERCA DE”
- A CERCA DE indica distância, como na frase “Trabalho a cerca de 10 quilômetros da minha casa”;
- HÁ CERCA DE indica tempo aproximado, como no exemplo “Te conheço há cerca de 20 anos”
ACERCA DE é o mesmo que A RESPEITO DE, como no exemplo “Na reunião falamos acerca de seu desempenho”.
A vida da gente é feita assim: um dia o elogio, no outro a crítica. A arte de analisar o trabalho de alguém é uma tarefa um pouco árdua porque mexe diretamente com o ego do receptor, seja ele leitor crítico ou não crítico. Por isso, espero que os visitantes deste blog LINGUAGEM E CULTURA tenham coerência para discordar ou não das observações que aqui sejam feitas, mas que não deixem de expressar, em hipótese alguma, seus pontos de vista, para que aproveitemos esse espaço, não como um ambiente de “alfinetadas” e “assopradas”, mas de simultâneas, inéditas e inesquecíveis trocas de experiências.