As
Academias de Letras são guardiãs do idioma pátrio e da literatura de expressão
nacional. Assim, há, entre os estudiosos, muita preocupação com os estrangeirismos
que invadem a nossa língua portuguesa,
bem como o pouco zelo dos falantes que ultrajam o idioma pelo mau uso. Por
esses motivos o texto de hoje é dedicado aos acadêmicos, com um pedido de maior
apreço ao idioma e à literatura de expressão portuguesa. Necessitamos
trabalhar, unidos, para fortalecer o uso do padrão culto do idioma entre os
estudantes brasileiros. Uma Academia de Letras não pode ser silenciosa aos
ataques às normas do bem falar e do bem escrever o idioma pátrio.
Sabemos que
em todos os tempos e lugares, apresentou-se, sempre, o problema da defesa dos
idiomas nacionais, em face da influência de outros. Esse é um fenômeno próprio de
controle de povos mais fortes nas guerras
de conquistas ou do comércio e, até, no relacionamento regular. Por mais que
possam os modismos, os neologismos possam sobressaltar-nos, trata-se de velha
questão a ser apreciada, segundo a lei darwinista, a lei do mais bem aparelhado
para subsistir e impor-se. Aos fracos, aos vencidos resta a adesão, a submissão
e até o perecimento. Combater os invasores, sim, não lhes dar trégua, impor
nossa individualidade, tentar manter-se de todas as maneiras possíveis.
Nesse
cenário, trazemos as palavras de filólogos e gramáticos renomados, de quem
nunca devemos abandonar as preciosas lições, no sentido de chamar a atenção de
alunos, professores, acadêmicos, para que, unidos, possamos aplicar e
fortalecer as grandes lições. A língua portuguesa é nossa identidade nacional.
Rodrigues Lapa, mestre lusitano que
viveu largo tempo entre nós, teve publicada no Rio de Janeiro a obra
Estilística da língua portuguesa, 3ª edição, 1959. Frequentava muito a
Academia, Rodrigues Lapa e brigou muito com Celso Cunha, por causa da Cartas
Chilenas. A respeito dos estrangeirismos, salientes os galicismos, opinou
Rodrigues Lapa que o problema é de ordem moral. Não nos devemos escravizar aos
estilos alheios e, sim, combater os excessos. Inútil, porém, e até grotesco —
acentua ele — é "berrar" contra os estrangeirismos. Sua adoção é lei
humana: "constitui como que uma fatalidade, devida aos intercâmbios das
civilizações". O "estrangeirismo — argumenta — é fenômeno natural,
que revela a existência de certa mentalidade comum. Os povos que dependem
econômica e intelectualmente de outros não podem deixar de adotar, com os
produtos e ideias vindos de fora, certas formas de linguagem que lhes não são
próprias. O ponto está em não permitir abusos e limitar essa importação
linguística ao razoável e necessário". "O estrangeirismo — remata —
tem vantagens: aumenta o poder expressivo das línguas, esbate a diferença dos
idiomas, tornando-os mais compreensivos, e facilita, por isso mesmo, a
comunicação das ideias gerais".
Ouça-se agora um especialista do
português no Brasil, Celso Cunha, professor universitário e acadêmico. Em uma
obra de 1968 — Língua portuguesa e realidade brasileira — esclareceu que
"para resguardo da pureza idiomática (gramáticos e escritores) propõem uma
rigorosa barreira alfandegária à entrada de termos e construções
estrangeiras". "Que conceito tem de pureza"? O português, do
qual se originou nossa língua, "é o latim numa evolução de vinte séculos,
ao qual se incorporaram elementos gregos, das línguas indígenas da Península
Ibérica, dos conquistadores godos e árabes e, posteriormente, uma quantidade
enorme de palavras francesas, provençais, italianas, espanholas, inglesas,
alemãs e, também, das línguas africanas, asiáticas e americanas. Que significa
então português puro? A estagnação é a morte do idioma. A história de uma
língua é justamente a história de suas inovações".
Sílvio Elia, professor
universitário com experiência profissional na Europa e na América do Norte. De
seu livro Sociolinguística, de 1987, extraímos o seguinte trecho: "O
predomínio do inglês se manifesta, claramente, entre nós. Nas escolas
secundárias e superiores, o seu ensino vai-se tornando quase exclusivo; poucos
optam pelo francês, seu tradicional rival, e muito menos por qualquer outra
língua viva do Ocidente.
Nos programas radiofônicos,
ouvem-se mais letras e canções americanas do que as de criação nacional. Nas
casas comerciais, na linguagem técnica da imprensa e das ciências físicas em
geral flui sem qualquer cerimônia o jargão anglicizante. Os jovens dançam à
americana nas discotecas e assemelhados e tarjam blusões com ditos gravados em
língua from USA. Até as manifestações de nativismo culturalista, como o black
power, são da mesma procedência. O fenômeno não é só nosso. A França, por
exemplo, reage com vivacidade patriótica contra o "franglais". A
mancha anglicizante se derrama por tudo o Ocidente". "(...) O destino
das grandes línguas nacionais de cultura" — disse Sílvio Elia, um dos
maiores filólogos brasileiros de todos os tempos, infelizmente falecido —
"é presentemente o de se converterem em organismos transnacionais, ou
serem absorvidos pelo gigantismo idiomático das superpotências."
Um comentário:
Excelente texto!
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