O fracasso escolar é um tema inquietante, pois é o maior problema para o sistema educacional brasileiro. Dentro e fora das escolas muito se fala sobre isso, mas poucas políticas têm atuado para dirimir esse drama no país. E o maior erro que se fez, nos últimos tempos, creio, foi aquele de o professor não poder reprovar o aluno.
Entendo que o MEC, maior parte das vezes, para se livrar de sua
imensa responsabilidade, procura outros culpados, tais como a pobreza,
desnutrição, fome, desagregação familiar, etc, para justificar essa gralha
social. Desse modo, procura alguém para assumir esse fracasso que só pertence ao
Sistema Educacional Brasileiro, sistema econômico, político e social. Mas será
que existe mesmo um culpado pela não aprendizagem? Se a aprendizagem acontece em
um vínculo, se ela é um processo que ocorre entre subjetividade, nunca uma única
pessoa poderá ser culpada.
De acordo com o dicionário Aurélio ‘fracasso’ é definido por um
mau êxito, uma ruína. Mas mau êxito em quê? Baseado em qual parâmetro? E o que a
sociedade define como sucesso? São questões que devem ficar bem esclarecidas.
Sabemos que os seres humanos nascem com uma tendência hábil para a aprendizagem.
A criança está pronta para aprender quando ela apresenta um conjunto de
condições, capacidades, habilidades, e aptidões consideradas como pré-requisito
para o início de qualquer aprendizagem.
De acordo com (OLIVEIRA, 1999) “prontidão” para aprender
significa o conjunto de habilidades que a criança deverá desenvolver de modo a
tornar-se capaz de executar determinadas atividades. Já Olds e Papalia, (2000)
afirmam que para estabelecer se houve ou não aprendizagem é preciso que as
mudanças ocorridas sejam relativamente permanentes. Existem pelo menos sete
fatores fundamentais para que tal aprendizagem se efetive, são eles: saúde
física e mental, motivação, prévio domínio, amadurecimento, inteligência,
concentração ou atenção e memória. A falta de um desses fatores pode ser a causa
de insucessos e das dificuldades de aprendizagem.
O conceito de dificuldades de aprendizagem é abrangente e
inclui problemas decorrentes do sistema educacional, de características próprias
do individuo e de influências ambientais. Do mesmo modo, segundo Paín (1992) "os
problemas de aprendizagem são aqueles que se superpõem ao baixo nível
intelectual, não permitindo ao sujeito aproveitar as suas possibilidades".
Muitas são as crianças e os adolescentes que hoje, no contexto
sociocultural brasileiro, apresentam dificuldades no processo de aprendizagem.
Tais dificuldades, nas classes sociais menos favorecidas, se agravam ainda mais,
pois a criança carrega, desde muito cedo, o estigma de menos capaz ao contexto e
às exigências escolares. Logo esse jovem estudante é rotulado como deficiente,
determinado pelas condições precárias de sua vida.
Por isso, para alguns teóricos, dente eles Fernandez (2001), a
sociedade do êxito educa e domestica. Seus valores e mitos, relativos à
aprendizagem, muitas vezes levam muitos estudantes ao fracasso. Em nosso sistema
educacional, o conhecimento é considerado conteúdo, uma informação a ser
transmitida. As atividades visam à assimilação de conteúdos, impossibilitando
assim o processo de autoria do pensamento.
É fácil para nós educadores observar que este caráter
informativo da educação, que se manifesta até mesmo nos livros didáticos, quando
o aluno é levado a memorizar conteúdos e não pensá-los, não ocorrendo de fato
uma aprendizagem.
Para a autora Cordié (1996), a criança está em situação de
fracasso escolar quando não “acompanha" o que é proposto no programa escolar e
os colegas da classe. Esse fato acaba por afetar a construção do sujeito em sua
totalidade. Ele passa a carregar consigo o estigma de "repetente", "atrasado",
"lento", "incapaz", o que pode levá-lo a acreditar no próprio fracasso. Os
alunos que se enquadram neste perfil assumem o papel de fracassados e acabam por
transpor isso para sua vida pessoal, fato que compromete seu futuro enquanto
cidadão. Todavia não será a não reprovação que irá solucionar esse gargalo e sim
à compreensão das individualidades e competências.
Diante desta realidade, na visão de Pimenta (1995), é certo que
cabe ao professor rever posicionamentos endurecidos, questionar crenças
arraigadas, confrontar posicionamentos imutáveis e isso implica na compreensão
do "aluno-problema" como porta voz das relações estabelecidas em sala de aula.
Pode-se perceber, claramente, que muitas vezes não é o aluno que não se encaixa
no que nós professores oferecemos, somos nós professores que, de certa forma,
não nos adequamos às potencialidades dos alunos. Assim, antes de falar em
fracasso escolar é preciso analisar o fracasso do sistema educacional para
atender tantas individualidades e potencialidades.
O "não-aprender", nos moldes impostos pelo social, vem sendo
tratado como distúrbios, fracassos e patologias em geral. O motivo pode ser a
concentração do processo pedagógico na "falta de talento" do sujeito, ou seja, o
processo de aprendizagem não estimula talentos distintos, centrando-se no
esperado e moldado com regras e valores. O diferente, nesse contexto, passa a
ser em primeiro lugar negado e, em seguida, estigmatizado. O sistema educacional
brasileiro necessita, urgentemente, estimular talentos ao invés de ‘taxar’
estudantes de ‘incapazes’.
Nós, professores, ao realizarmos nossa atuação docente,
elaborando vínculos afetivos com este ser que aprende, mesmo que não deseje
aprender naquele momento, por alguma circunstância, certamente estaremos fazendo
a parte que nos cabe: prepará-lo para operar autonomamente seu futuro, usando
sua cabeça para pensar em alternativas viáveis para os problemas da sua
sociedade, seu coração para sentir as exigências e apelos sociais e suas mãos
para agir em prol do bem comum. Afinal, é para isso que serve a educação.
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