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domingo, 17 de abril de 2011

FRONTEIRA ENTRE PENSAMENTO E LINGUAGEM

Faz-se uma reflexão do que seja pensamento e linguagem. Será que os dois caminham juntos? Em que momento da vida o ser humano começa a pensar? Segundo Vigotsky existe uma fase pré-linguística no desenvolvimento do pensamento e uma fase pré-intelectual no desenvolvimento da fala. O balbucio, o choro da criança e mesmo suas primeiras palavras são claramente estágios do desenvolvimento da fala e não têm nenhuma relação com a evolução do pensamento. Essas manifestações, geralmente, têm sido consideradas uma forma de comportamento predominantemente emocional, que caracterizam a fase pré-linguística da fala.

As primeiras formas de comportamento da criança, bem como as suas primeiras reações à voz humana mostram que a função social da fala já é aparente durante o primeiro ano de vida, isto é, na fase pré-intelectual do desenvolvimento da fala. Cientistas observam que mais ou menos aos dois anos de idade as curvas da evolução do pensamento e da fala, até então viviam separadas, encontram-se e unem-se para iniciar uma nova forma de comportamento.

O estudioso Stern mostrou como a vontade de dominar a linguagem segue-se à primeira percepção difusa do propósito da fala, quando a criança “faz a maior descoberta de sua vida”, a de que “cada coisa tem seu nome”. (Stern apud Vigotsky, 2000a, p.53). Nesse momento o pensamento torna-se verbal e a fala torna-se racional. Esse instante crucial, em que a fala começa a servir ao intelecto, e o pensamento começa a ser verbalizado, é indicado por dois sintomas objetivos inconfundíveis: (1) a curiosidade ativa e repentina da criança pelas palavras, suas perguntas sobre cada coisa nova; e (2) a conseqüente ampliação de seu vocabulário, que ocorre de forma rápida e aos saltos.

Ao refletir sobre linguagem e pensamento, ocorre à mente que diferentes línguas possuem estruturas lexicais e sintáticas diversas. Essa multiplicidade, geralmente, reflete as diferenças no ambiente físico e cultural no qual as línguas surgiram e se desenvolveram. Um conceito relevante a essa questão é o do determinismo lingüístico, também chamado de hipótese Sapir-Whorf, que afirma que os pensamentos das pessoas são determinados pelas categorias permitidas pela língua, e na sua versão mais fraca, a relatividade lingüística, afirma que as diferenças entre as línguas causam diferenças nos pensamentos de seus falantes.

Nas palavras de Pinker:

"Na qualidade de cientista cognitivo posso me dar o direito de ser presunçoso e afirmar que o senso comum está correto (o pensamento é diferente da linguagem) e que o determinismo lingüístico é um absurdo convencional." (2002, p.75)

"Mas isso é falso, completamente falso. A idéia de que o pensamento seja a mesma coisa que a linguagem é um exemplo do que se pode chamar de absurdo convencional: uma afirmação totalmente contrária ao senso comum, mas em que todos acreditam porque têm uma vaga lembrança de tê-la escutado em algum lugar e porque ela tem tantas implicações. [...] Todos tivemos a experiência de enunciar ou escrever uma frase, parar e perceber que não era exatamente o que queríamos dizer. Para que haja esse sentimento, é preciso haver um 'o que queríamos dizer' diferente do que dissemos. Nem sempre é fácil encontrar as palavras que expressam adequadamente um pensamento." (2002, p.62)

Para Vygotsky (1991), o pensamento e a palavra não são ligados por um elo primário, mas, ao longo da evolução do pensamento e da fala, tem início uma conexão entre ambos, que se modifica e se desenvolve. Segundo ele, o fato mais importante revelado pelo estudo genético do pensamento e da fala é que a reação entre ambos passa por várias mudanças. O progresso da fala não é paralelo ao progresso do pensamento. As curvas de crescimentos de ambos cruzam-se muitas vezes; podem atingir o mesmo ponto e correr lado a lado, e até mesmo fundir-se por algum tempo, mas acabam se separando novamente. Isso se aplica tanto à filogenia como à ontogenia.

Com base na abordagem genética do desenvolvimento da linguagem, Vygotsky (in SOUZA, 2001) observa que o pensamento da criança pequena inicialmente evolui sem a linguagem; assim como os seus primeiros balbucios são uma forma de comunicação sem pensamento. Entretanto, já nos primeiros meses, na fase pré-intelectual, a função social da fala já é aparente: a criança tenta atrair a atenção do adulto por meio de sons variados. Até por volta dos dois anos, a criança possui um pensamento pré-lingüístico e uma linguagem pré-intelectual, mas a partir daí, eles se encontram e se unem, iniciando um novo tipo de organização do pensamento e da linguagem. Nesse momento, surge o pensamento verbal e a fala racional. A criança descobre que cada objeto tem seu nome e a fala começa a servir ao intelecto e os pensamentos começam a ser verbalizados.

Para concluir a reflexão, diz com Vygotsky que o desenvolvimento do pensamento é determinado pela linguagem, pelos instrumentos lingüísticos do pensamento e pela experiência sócio-cultural de cada pessoa. Nós, seres humanos, somos espelho e historicidade de nossa evolução. Daí a importância da linguagem e do pensamento na vida social de toda e qualquer comunidade humana. Uma palavra vazia de pensamento é uma coisa morta, por outro lado um pensamento despido de palavras é uma sombra.

DICAS DE GRAMÁTICA

VENDA À PRAZO ou VENDA A PRAZO?

- Não existe crase antes de palavra masculina, a menos que esteja subentendida a palavra moda: Salto à (moda de) Luís XV. Nos demais casos: A salvo, a bordo, a pé, a esmo, a cavalo, a caráter. Logo, a expressão correta é Venda a prazo.

QUEBROU O ÓCULOS ou QUEBROS OS ÓSCULOS?

- Concordância no plural: os óculos, meus óculos. Da mesma forma: Meus parabéns, meus pêsames, seus ciúmes, nossas férias, felizes núpcias.

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A vida da gente é feita assim: um dia o elogio, no outro a crítica. A arte de analisar o trabalho de alguém é uma tarefa um pouco árdua porque mexe diretamente com o ego do receptor, seja ele leitor crítico ou não crítico. Por isso, espero que os visitantes deste blog LINGUAGEM E CULTURA tenham coerência para discordar ou não das observações que aqui sejam feitas, mas que não deixem de expressar, em hipótese alguma, seus pontos de vista, para que aproveitemos esse espaço, não como um ambiente de “alfinetadas” e “assopradas”, mas de simultâneas, inéditas e inesquecíveis trocas de experiências.