Temos o resultado das Eleições Presidenciais. Mais de uma centena de observadores estrangeiros, provenientes de 45 países, estiveram aqui. Eles viram um Brasil gigante, realizar uma eleição moderna, ágil, segura. As edições virtuais dos principais jornais do mundo destacam a vitória da petista Dilma Rousseff, como a sucessora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Jornais importantes estamparam manchetes sobre o acontecimento. No alto de sua Home Page, o New York Times, o mais prestigiado periódico do mundo, destaca logo no título: “Sucessora escolhida por líder brasileiro vence a Presidência”. No texto, assinado por jornalistas da agência de notícias Reuters, o jornal destaca que a “ex-líder de guerrilha” venceu depois de prometer ser fiel aos projetos que “ergueram milhões da pobreza e fizeram do Brasil uma das economias mais quentes do mundo”.
O periódico espanhol El País traz a conquista da petista na manchete de seu site. Sob o título “Dilma, primeira mulher que alcança a Presidência”. O El País diz que a petista precisará montar um governo próprio, com uma forma própria. “É quase certo que manterá por pelo menos um ano o atual ministro da Economia, Guido Mantega.”
O jornal francês Le Monde, com menor destaque, também registra o resultado das eleições no Brasil. No texto publicado, o diário classifica Dilma como uma “herança política de Lula”, de quem teria assimilado toda a “popularidade recorde”, e uma sobrevivente após um câncer aos 62 anos.
O inglês The Guardian também registra que o país elegeu sua “primeira mulher presidente”, confirmando os resultados das pesquisas eleitorais. Em um texto publicado na capa de seu site, o diário chama a presidente eleita de “ex-rebelde Marxista”.
E a partir de então essa mulher tem em suas mãos os desafios que o Brasil deverá enfrentar. Eles são numerosos. Apontam-se alguns dentre os mais relevantes: a) o problema da disparidade de renda, um dos maiores do mundo; b) o desafio de harmonizar o desenvolvimento econômico com a proteção ambiental e a inclusão do maior número possível de brasileiros no sistema do emprego formal; c) a substituição da malha rodoviária por um sistema de ferrovias torna-se também urgente; d) a situação do país no MERCOSUL; e) o papel do país do mundo; f) o combate à violência; g) a atenção e o cuidado à saúde do povo brasileiro; h) a igualdade de trabalho entre homens e mulheres; i) a erradicação da miséria; j) e, como Professora de Língua Portuguesa, peço que ela seja PRESIDENTE do Brasil, que olhe pela educação como uma alavanca para que possa realizar seu programa de governo, então esboçado no seu primeiro pronunciamento à nação.
Agora, a questão fundamental que titula este artigo: Presidente ou Presidenta? A quem recorrer para saber o que é certo? Essa é a pergunta das perguntas, para usar um hebraísmo sintático. Pode-se recorrer à etimologia, à analogia ou ao uso. Quanto à etimologia, “presidente”, está lá no Houaiss, vem do latim praesìdens, éntis, particípio presente de praesidére ‘estar assentado adiante, ter o primeiro lugar; estar à testa de, dirigir, administrar’; ver sed(i)-; f.hist. sXV presidente, sXV presidemte, sXV presedemte.
A palavra nasceu de um particípio latino. Os “particípios” têm esse nome porque são, ao mesmo tempo, verbos (por isso têm tempos) e nomes (por isso são declinados), “participando” da natureza de ambos. O lado adjetivo da palavra latina pertence à segunda classe, que segue a terceira declinação. Adjetivos latinos da segunda classe têm uma só forma para o masculino e feminino. O homem sentado à frente é praesidens, a mulher sentada à frente será igualmente praesidens. À medida que o adjetivo foi se substantivando, manteve o uso e a flexão. Por isso, pela etimologia, todos esses substantivos são uniformes, ou seja, com raras exceções, os substantivos terminados em “E” são comuns de dois gêneros, e apenas o artigo os define como masculino e feminino. Portanto, como Dilma Rousseff está eleita deve ser chamada de PRESIDENTE e jamais PRESIDENTA.
Aqui, a analogia confirma a etimologia: porque paciente e cliente também servem para ambos os gêneros. Mas há quem diga “presidenta”, embora não haja quem diga “clienta” ou “pacienta”. Talvez, no futuro, o uso mude, “presidenta” venha a se tornar a norma e, por analogia, passemos a falar em clientas e pacientas.
De qualquer forma, o povo faz a língua e não a língua o povo, isso já dizia Fernão de Oliveira, nosso primeiro gramático, em 1936. Daqui por diante veremos como o povo vai promover a escolha. Diria que o país deve ser elegante, vernacular, privilegiar a forma erudita que é “a Presidente Dilma Rousseff”.
DICAS DE GRAMÁTICA
PRESIDENTE ou PRESIDENTA, Professora?
- A forma erudita é Presidente. É bonito dizer: A Presidente do Brasil Dilma Rousseff. O feminino não é obrigatório, mas pode ser usado. Por isso o Dicionário Aurélio registra a forma feminina, com “a”, a Presidenta. Entretanto, há para considerar, nesse contexto, que a Academia Brasileira de Letras é conservadora, embora considere as duas formas. A acadêmica Nélida Piñon, quando eleita, sempre se apresentou como a primeira PRESIDENTE da Academia Brasileira de Letras. Patrícia Amorim, desde sua eleição, sempre foi tratada como a presidente do Flamengo. Por vezes, a forma feminina ganha à feição pejorativa, como é o caso de CHEFA e PARENTA. Resta saber como Dilma vai desejar ser chamada. Mas Presidenta dói no ouvido!
COMO DILMA SE INTITULOU NO SEU DISCURSO À NAÇÃO?
- A Presidenta do Brasil! Vejam, acho que a senhora presidenta está dando um tiro no pé ao se autodenominar assim. Não é necessário forçar a expressão do gênero, basta provar que é competente, como já foi dito. Além do mais, ninguém é obrigado a usar uma palavra só porque ela consta no dicionário, vide a questão do “perca” (perda) que está lá no dicionário, mas é feia de doer. É preferível dizer: a Presidente Dilma Rousseff!
Um comentário:
Prezada Profª. Luísa,
passei para deixar meus cumprimentos e felicitações pelos artigos.
Abraços,
na admiração de sempre!
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