Quis ser um dia jardineira
de um coração.
Sachei, mondei e nada colhi.
Nasceram espinhos
e neles me feri.
Quis ser um dia jardineira
de um coração.
Cavei, plantei,
Na terra ingrata
nada criei.
Quis ser uma dia jardineira
de um coração.
Ali fiz adubo, semeei,
Todos os dias reguei.
Mas a terra não sendo boa,
Foi tempo perdido à toa.
Quis ser um dia jardineira
de um coração.
Cuidei, zelei, acariciei,
Mas ele sendo ingrato,
Nunca deu valor a minha ação,
Sempre traiu meu coração.
Coração é terra que ninguém vê,
- diz o ditado popular.
Sei que tudo fiz para agradar,
Mas as pedras estavam no lar,
Duras, ferinas, pontiagudas,
Não me deixaram adentrar.
Na casa fui muitas vezes,
Com esperança, anos a fio,
Bati, bati, nem escutei assobio,
Casa vazia, porta fechada,
Era uma gente de cara amarrada...
Naquele espaço nada criei,
Sentia medo do assombroso rei,
Que nada tinha de coroa,
Não queria patroa,
Uma governanta ambicionava.
Quis ser um dia jardineira
de um coração.
Olhava tudo e refletia,
A verdade sempre reluzia,
Clara, cristalina como a luz do dia.
Quis ser um dia jardineira
de um coração.
Mas o ser me olhava de cima,
queria de mim uma sina,
De mulher escrava, submissa,
De promessa nunca omissa,
Mas pagadora de mimo e capricho,
De gente com cara de nicho.
Um comentário:
Bah! Não é que esse teu poema fala de minha vida também? Dei uma errada com um sujeito safado, mentiroso, mulherengo, manobrado pelos filhos. Ele se dizia livre, as um pilantra disfarçado, sempre tirando vantagem de tudo. Quase me depenou o safado. Hoje estou feliz com um homem muito decente. A poesia serve para ler muitas almas. Lindo, eu gostei.
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