Observa-se que ações
desonestas se tornaram comuns na vida cotidiana brasileira. A mídia e a polícia
registram, a cada minuto, atos de desonestidade no país. Embora a honestidade
seja a maior virtude no viver humano, a prática da desonestidade ganhou
muito espaço no meio social em que vivemos. Mesmo havendo o consenso de que ser
honesto é a melhor forma de conduzir todos os aspectos da vida, seja nos
relacionamentos pessoais ou profissionais, ou em relação a nós mesmos, a
desonestidade persiste. Daí decorre uma pergunta crucial: Por que as pessoas
mentem para enganar a si e aos outros? Por que as pessoas fingem aquilo que não
são?
A resposta não é
simples, porquanto a honestidade é uma questão de educação, mas infelizmente
até mesmo pessoas que foram rigorosamente educadas podem vir a desenvolver a desonestidade.
Por que isso acontece? Acontece por variados motivos, dentre eles: ambição;
desejo de ter aquilo que não pode comprar; possuir bens sem fazer força;
adquirir bens à custa do dinheiro do outro; não querer trabalhar e colocar
culpa na pobreza, etc. Segundo a especialista em saúde mental, Bianca Bortolini
Florsz (2008), existe três fatores que podem levar a desonestidade: 1 - desvio
de caráter, esse nasce com a pessoa, indiferente da educação e estrutura
familiar; 2 – má característica de personalidade, esse pode ser revertido; 3 – defeito
comportamental, que se desenvolve devido ao cotidiano do meio em que vivem as
pessoas.
Pesquisadores da
Universidade de Washington (EUA), London Business School (Reino Unido),
Universidade Harvard e Universidade da Pensilvânia (EUA) fizeram uma série de
estudos para descobrir como os desonestos trapaceiros se sentem quando praticam
atos lesivos. A maioria deles tem sentimentos positivos e se sentem bem quando
enganam outras pessoas. Julgam-se espertos e mais sábios. Bizarro, não? Esse sentimento positivo é superior às emoções negativas decorrentes do comportamento
imoral da desonestidade. Por isso, os pesquisadores acreditam que as fraudes
proporcionam, nesses desonestos, recompensas psicológicas, como por exemplo;
satisfação de esperteza, de inteligência, de sagacidade, de astúcia. São
valores invertidos. Assim, ao invés de se sentirem mal, a maioria deles se sente
bem por enganar alguém. Se sentem vitoriosos porque conseguiram lesar, enganar
o outro, valendo-se de uma amizade, um relacionamento afetivo, um laço de
trabalho, uma vizinhança, um laço de parentesco, para tirar proveito próprio.
Agora, a pergunta crucial:
qual a maior causa para a desonestidade? A desonestidade pode ser ocasionada
por falta de educação. Todavia, o fator principal é a falta de caráter. Segundo
os valores morais da sociedade brasileira, ser desonesto não é somente roubar e
praticar apropriação indébita, mas também levantar falso testemunho, mentir,
fingir, conseguir as coisas passando por cima de outras pessoas, fraudar, não
ser digno, enganar, trapacear. Se procurarmos no dicionário o conceito da
palavra desonesto significa àquela pessoa que não tem honestidade, indigna,
torpe, desprezível, impúdica, devassa, gatuna, ímproba, indecorosa, indecente,
indigna, desleal, falsa, vergonhosa.
Alguns estudos têm sido
realizados com o objetivo de avaliar o grau de honestidade em determinadas
sociedades. Os resultados mostraram que 83% dos entrevistados admitiram ter
cometido pelo menos uma prática ilegítima ou desonesta, como receber troco a
mais e não devolvê-lo, levar objetos de hotéis, restaurantes ou do local de
trabalho para casa; pagar para receber uma receita ou atestado médico; mentir
ao declarar o imposto de renda; empregar funcionários sem registro em carteira;
falsificar carteira estudantil para ter direito à meia-entrada em
estabelecimentos comerciais; trazer produtos importados acima do limite legal,
sem pagar o imposto correspondente, fazer ligações clandestinas de fiação
elétrica. Entre as pessoas na idade de 16 a 24 anos, essa taxa de admissão
chega a 93%. Depois dessa idade, é mesmo falta de vergonha na cara, deve ir
para a cadeia olhar o sol nascer quadrado. O percentual sobe para 95%. E a
sociedade não poderá tolerar e conviver com tanta gente desonesta.
É sabido que a
sociedade, através das instituições jurídicas, tenta punir, pelo menos até
certo ponto, esses atos desonestos. Todavia as ações ainda não são inibidoras
dessas ações lesivas. É difícil compreender como as pessoas, modo geral, tomam
decisões com respeito à desonestidade que é praticada no dia a dia, de
diferentes formas. Mas é importante a formulação de medidas mais eficazes, a
fim de suprimir esse tipo de comportamento que tanto mal causa à vida em
sociedade.
De tudo aquilo que se
leu sobre o tema, o êxito, muitas vezes limitado, em restringir o comportamento
desonesto de pessoas “honestas”, poderá ser olhado sob duas abordagens
complementares, com o fito da compreensão e limitação da desonestidade. A
primeira abordagem, sob uma análise exclusivamente econômica, assume que
principalmente duas variáveis — a probabilidade de ser flagrado e a magnitude
da punição — devem aumentar, e assim reduzir ou eliminar a desonestidade. Nesse
quesito o Brasil precisa avançar muito.
Outros estudos
(POGARSKY, 2003) sugerem que aumentar a probabilidade de ser flagrado é mais
eficaz para reduzir a desonestidade do que aumentar a gravidade da punição. Mas
de uma ou outra forma, é certo dizer que alguma coisa o país precisa fazer para
punir e coibir os desonestos. Por, isso, talvez, os cientistas comportamentais,
com base em experimentos e simples observações do cotidiano, têm dedicado parte
de seus estudos para entender o comportamento humano, no intuito de melhorar o
entendimento sobre o tema e minimizar os efeitos negativos de determinadas
atitudes. Alguns cientistas, tais como Richard H. Thaler e Cass Robert Sustein
(New York, 2009), assim como professores da University of Chicago's Graduate
School of Business e da Harvard Law School, concluíram que os indivíduos são
mais suscetíveis a erros de escolha do que querem admitir. Eles consideram que
o comportamento desonesto é mais influenciado pelas forças irracionais do que
pela racionalidade. Então, uma solução seria as pessoas procurarem agir,
sempre, com racionalidade e respeito ao outro que está sendo lesado. Se a
pessoa é honesta com si mesma, dificilmente será desonesta com os outros. Entra,
aqui, a questão da dignidade humana, assunto vasto que ficará para outra
oportunidade. Mas educar para uma vida harmônica e honesta é o caminho seguro.
DICAS DE GRAMÁTICA
Em baixo ou embaixo,
professora?
- Embaixo, escrito junto,
quando se referir a um advérbio de lugar. Ex.: O gato está embaixo da
mesa. Ele já foi um político prestigiado, mas hoje em dia está embaixo.
- Em baixo, escrito
separado existe, mas é usado apenas quando a palavra baixo assume a função de
um adjetivo, caracterizando algo. Ex.: Continuarei falando em baixo tom de voz.
Esta coluna está decorada em baixo relevo.
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