A nova Diretoria da Academia Acreana de Letras assumiu o mandato
para o próximo biênio em meio a muitas dificuldades. Aqui, neste artigo, iremos
comentar alguns desses gargalos que enfrentam os intelectuais no Brasil e, em
especial no Estado do Acre.
A nossa missão é zelar pelo idioma pátrio, apoiar e incentivar a
literatura de expressão nacional. É uma atividade por demais difícil. Vejamos:
no Brasil a leitura não é uma atividade comum, justamente porque os brasileiros
não possuem este hábito. A Academia tem que fazer um trabalho de incentivo e
valorização dos escritores e, com isso, criar espaços, em meio à população,
para a cultura do livro.
Sabemos que a maioria dos professores e educadores tentam incentivar a
leitura nas escolas, mas a juventude atual, com raras exceções, gosta de outras
coisas e abominam a leitura, uma atividade essencial para adquirem conhecimento
e informações sobre todas as coisas.
Quando se fala em literatura é pior ainda, pois as obras literárias de
fato não são fáceis de entender, devido ao fato da época em que se foram
produzidas. Porém, é urgente mostrar aos estudantes que a literatura nos mostra
como a vida era antes, ou seja, como vivia sociedade de outros tempos. Os
autores escrevem para a sociedade de cada época, no intuito de a sociedade
refletir sobre o tempo em que vive e atuar para melhorar. Por este motivo, a
literatura tem sido mais um componente presente em provas de vestibulares, pois
além de trazer conhecimento da época em que a obra foi escrita, conduz, também,
à reflexão do tempo atual.
As leituras frequentes são formas de aprimorar não só o vocabulário, mas,
também, a gramática e o domínio da língua portuguesa, modo geral. São
exigências capitais do falante/escritor: saber concordar, saber reger, saber
pronunciar e saber usar corretamente as palavras. É doloroso ouvir
profissionais dizerem “existe muitas pessoas” ou “Eu lhe encontrei ontem”, ou
pronunciar “récorde” no lugar de “recorde”, a palavra corretamente
proparoxítona. Só há um meio de dominar o idioma: estudando e, sempre, sempre,
prestando atenção ao que se fala e ao que se escreve.
Outro aspecto, intimamente ligado com a leitura e a escrita está
relacionada à educação. E, neste caso, o Brasil falece de condições e
políticas de estímulo à leitura e à escrita. Embora haja diversos programas e
grupos empenhados em reverter essa situação, o país ainda está longe de
alcançar as metas desejadas. Somente nos grandes centros nós vemos a produção,
publicação e divulgação dos autores e, mesmo assim, permanecendo inacessíveis a
muitos grupos sociais. Comprar livro tornou-se um hábito de luxo. Publicar uma
obra é muito custoso. Não se tem uma política para publicação de obras e de
incentivo aos escritores.
Todavia, em meio aos percalços mercadológicos, educacionais, sociais e
históricos, percebe-se um aumento de publicações nacionais nos últimos anos.
Isso acontece porque o autor deseja ter sua obra impressa, em forma de livro, e
arca com essa publicação. Depois, ele mesmo, terá que sair fazendo a divulgação
porque o país não possui uma política de cultura do livro e de apoio aos
escritores.
O Brasil conta, hoje, com a Câmara Brasileira do Livro, órgão sem
fins lucrativos, que atua na promoção do mercado editorial brasileiro. A CBL é
responsável, desde 1959, pelo prêmio Jabuti, maior premiação de literatura
no território, que premia anualmente desde romances a livros didáticos e
projetos gráficos. Mas é somente isso, nada mais. É muito pouco para o muito
que precisa ser feito pela cultura do livro, da leitura, do escritor.
Mas voltemos à questão da Academia Acreana de Letras – AAL, uma
instituição que tem 80 anos e nunca possuiu sede. Não dispõe de um funcionário
e nem de recursos para cumprir a sua finalidade precípua, mencionada acima. E
não tem sido por desinteresse dos imortais, mas por total negligência dos poderes
públicos que têm o dever constitucional de zelar pela educação, pelo
idioma, pela cultura, como patrimônios da nação. Outro dia, por ocasião da
eleição da Diretoria da AAL, no Centro Cultural do TJAC, fomos surpreendidos
por um advogado, o Dr. Ildefonso Menezes, que veio ao nosso encontro para doar
um terreno para construção da sede da Academia Acreana de Letras. Ele se sentiu
tão comovido, ao ler no jornal A Gazeta, que a AAL, com 80 anos, não tinha
sede. Foi um momentos tão singular em que quase todos nós choramos.
Então, postas essas questões acima, que a sociedade conhece, acresce
dizer que a língua nacional é a mais autêntica forma de expressão do espírito
humano. Quem não conhece o próprio idioma acaba não se fazendo comunicar e não
se entendendo a si mesmo. Ofícios, cartas, relatórios, teses, dissertações,
artigos, científicos ou não, assim com toda produção que envolve o processo
comunicativo, de natureza burocrática, acadêmica ou não, são meios de o
indivíduo atuar na sociedade. Não saber produzi-los é se limitar as pessoas
enquanto agentes sociais. E, aqui no Acre, a Academia Acreana de Letras muito
poderia realizar em prol desses conhecimentos, isso porque nossa meta maior é o
culto ao idioma pátrio. Necessitamos dialogar com as instituições e, sobretudo,
do apoio do Governo (em todas as esferas) no apoio às nossas ações. A nossa
imortalidade sustenta-se nos nossos feitos que ficarão para as gerações
futuras.
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