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terça-feira, 14 de abril de 2020

CACOETES LINGUÍSTICOS OU TRAPAÇAS COMUNICATIVAS



Você usa cacoetes de linguagem? - Português - Colégio Web
                                             
                                                                                   Luísa Karlberg   lessaluisa@yahoo.com.br

Sabemos, nós,  que trapaça é uma forma de enganar. E trapaça sempre será trapaça, mesmo na comunicação oral ou escrita, porquanto são meios de burlar, ferir o padrão culto do idioma. Existem muitos modismos que passam com o tempo, outros permanecem no idioma. Todavia alguns são insuportáveis e diminuem o status do falante, que não aprendeu a respeitar o idioma pátrio e que se enche de modismos e achismos na crença de ser “moderno”, quando, na verdade, parece “ridículo” em face dos padrões de bem falar  que podem levar a imagem do falante ao precipício.
É fato que quase todas as pessoas,  no mundo, usa, vez por outra, uma gíria ou um cacoete linguístico. Esse cacoete é um fenômeno da linguagem se popularizou depois da década de 60, quando comunicadores mais rebeldes resolveram contestar a língua tradicional e começaram a soltar verbetes considerados ousados.  Assim, originária de grupos, o cacoete ou a gíria é uma palavra comum que substitui termos oficiais.
Agora está muito em moda a expressão “tipo” ou “tipo assim” que nada dizem, são muletas mudas que empobrecem o universo linguístico do falante. Vejamos:
1. Tipo:  “Eu não sei (tipo), acho melhor a gente (tipo) pensar melhor no que vai fazer para depois (tipo) não sofrer com as consequências...”. Quem entendeu?!
2. Meio que:
De repente você “meio que” se identificou com nossa lista de cacoetes linguísticos? Não se desespere, conhecer os vícios de linguagem é uma ótima maneira para superá-los! O professor (meio que) pegou os alunos de surpresa com aquela prova!
3. Tipo assim:
O “tipo assim” tornou-se uma espécie de epidemia linguística e, nos casos mais graves, pode ser encontrado até mesmo nos textos escritos. Que tal um antídoto? Formalmente, o “tipo assim” não possui nenhum valor semântico! Ele ficou (tipo assim) chocado com a notícia que recebeu! Ela é (tipo assim) uma professora. "Tipo assim" significa tudo e significa nada. Pode ser eliminado de todas as frases e não faz falta. Mas quem se viciou na dupla não passa sem ela. "Ele é um homem tipo assim bruto", me confidenciou a manicure sobre o novo namorado. "O livro que você quer é tipo este?", me perguntou o rapaz na livraria.
4. Cara
“Cara”, “tipo assim”, todo mundo conhece alguém que adora se referir às outras pessoas dessa maneira, não é mesmo? E quando o “cara” não serve nem para isso? Pois é, acontece, veja um exemplo: (Cara), você perdeu, (cara) o show foi muito bom, só feras (cara)!
5. Gerundismo:
Muitos de nós somos vítimas desse cacoete linguístico. O gerundismo é um modismo que utiliza de maneira inadequada a forma nominal gerúndio. Na tentativa de reforçar uma ideia de continuidade de um verbo no futuro, acabamos complicando o que já é suficientemente complicado, e o que antes podia ser dito de maneira mais econômica e direta foi substituído por uma intrincada estrutura que prefere utilizar três verbos em vez de apenas um ou dois: Nós vamos estar identificando o problema e assim que pudermos estaremos entrando em contato para solucioná-lo. = Nós vamos identificar o problema e assim que pudermos entrarei em contato para solucioná-lo.
6. Enfim:
Muita gente letrada inicia um pensamento, não conclui e diz “enfim” como desfecho: Ou vou sair hoje, mesmo que chova, enfim; Estou cansado de ficar em casa, vou sair, enfim. Não gostos das coisas que ela me fala, enfim.
7. Tá falado:
Atua, na linguagem, como uma ordem, determinação, imposição, mas nada significa, não passa de um entulho linguístico.  Ex. Todos, em casa, tá falado; A ordem é essa, tá falado; Se sair a gente mete bala, tá falado; quem quiser morrer vai morrer, tá falado.
Agora que o falante já sabe o que são os cacoetes linguísticos, poderá evitá-los, sobretudo na linguagem escrita. Mas é importante ressaltar que diversos aspectos, como as variações linguísticas, a influência do coloquialismo e o dinamismo da comunicação, devem ser observados. A principal função da língua, que é um instrumento dos falantes e para os falantes, é auxiliar nas interações sociais, e fazer-se compreendido é o que realmente importa. Como dizem os linguistas, devemos nos adequar aos tipos de linguagem, de acordo com o contexto comunicacional e sermos poliglotas em nosso próprio idioma.
Na linguagem culta, cacoete linguístico ou gíria é considerada plebeísmo, ou seja, desvio que caracteriza falta de instrução. Como o nível de linguagem está relacionado à imagem que se deseja transmitir, é importante avaliar se o ambiente é propício para usar a informalidade exagerada que a gíria propõe para que o uso indiscriminado não acarrete em perda da credibilidade. Principalmente para quem é líder, fala em público, ou é formador de opinião, é recomendável conhecer seu público antes de se aventurar  a dizer gírias que podem não colaborar com a  imagem pessoal e profissional daquele que usa um cacoete linguístico ou uma  gíria.
Fato curioso é como um determinado uso de palavras se populariza, se espalha como um vírus, e depois desaparece, como se tivéssemos desenvolvido imunidade. Que desapareça eu entendo e comemoro. Quem vai lamentar o abandono da locução "a nível de..." e “tipo assim”, “enfim”, “ que se usou anos atrás” ou "de repente"? Que descansem em paz. Ainda espero ansiosa que enterrem também o "diferenciado", que tem sido usado para qualquer coisa que se quer elogiar vagamente, imprecisamente. É lindo, sofisticado, único? “Não, não é bem isso... É diferenciado”! Na verdade é mesmo ridículo, falta de criatividade, pobreza vocabular.
Como solucionar os cacoetes e as gírias? – Estudando as regras de bem falar, afinal são elas que mais vão dizer quem é cada um de nós. As palavras são como espelhos. A ideia é não mudar a personalidade e individualidade de ninguém. Mas enquanto o profissional está  na sua sagrada missão de trabalho precisa estar à frente de qualquer gíria. Afinal esse falante representa a empresa onde trabalha, revela sua classe social, sua formação educacional, sua inteligência e mesmo sua capacidade comunicativas com os demais utentes. Por isso tudo, não seja purista, seja correto e não agrida o idioma pátrio!

DICAS DE GRAMÁTICA
 
FAZEM DOIS ANOS QUE NÃO O VEJO.
ERRADO.
O certo é faz dois anos. Faz 100 anos.
Não importa o número de anos, décadas, séculos.
O verbo fazer quando se refere ao tempo é sempre no singular.
Faz, fez, fará.

DIA PRIMEIRO DE MAIO É O DIA INTERNACIONAL DO TRABALHADOR.
CERTÍSSIMO.
Por tradição, nunca falamos ou escrevemos 1 de maio, 1 de dezembro etc.
O primeiro dia do mês é sempre primeiro.
Se você não quiser escrever por extenso, escreva o número 1 + ponto + a respectiva bolinha:
1.º

ENTRAR PARA DENTRO – SAIR PARA FORA
SUBIR PARA CIMA – DESCER PARA BAIXO
EVITE!
É uma redundância. Um exagero! Entrar é sempre para dentro. Sair é sempre para fora.
Subir é para cima. Descer é para baixo. Prefira simplesmente: entrar, sair, subir, descer.

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A vida da gente é feita assim: um dia o elogio, no outro a crítica. A arte de analisar o trabalho de alguém é uma tarefa um pouco árdua porque mexe diretamente com o ego do receptor, seja ele leitor crítico ou não crítico. Por isso, espero que os visitantes deste blog LINGUAGEM E CULTURA tenham coerência para discordar ou não das observações que aqui sejam feitas, mas que não deixem de expressar, em hipótese alguma, seus pontos de vista, para que aproveitemos esse espaço, não como um ambiente de “alfinetadas” e “assopradas”, mas de simultâneas, inéditas e inesquecíveis trocas de experiências.