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quarta-feira, 17 de abril de 2013

SAUDADE, SEMPRE SAUDADE!

 

 

Todo mundo, um dia, já sentiu saudade. Saudade de um amigo, dias felizes, de momentos especiais, alegres, engraçados, de uma música, uma palavra ou até um sorriso. Se perguntar: o que é a saudade, friamente falando, fica difícil definir. Saudade é uma sensação tão complexa que nenhuma definição recobriria sua extensão. Tenho em mim que saudade não se define, apenas, com adjetivos ou palavras bonitas. É uma palavra cujo sentido vai além de descrições feitas pelos grandes mestres da literatura e da poesia. Pode ser: emoção, felicidade, tristeza, êxtase, alegria, boas lembranças. Somente sente saudades aquela pessoa que vive; saudades de amigos que se mudaram para outras cidades, vilas, países; saudades da infância que não volta mais; saudades de bons momentos que a gente viveu; saudades de pessoas que a gente ama; saudades de um sorriso, de um olhar, de um sussurro no ouvido; saudades de sentir saudades; saudade, sem motivo, somente saudade.

Por isso tudo eu acredito que sentir saudades é sinal de sorte. Isso porque SAUDADE é um indicativo de coisa que faz bem, de vida que deixa marcas, de gente que vai e gente que fica. Saudade é o passado presente. É o que foi e ainda está tão em nós, latejando, queimando, doendo.

Eu, por exemplo, sinto saudade das pegadas que vejo no caminho atrás de mim. Do caminho, da caminhada, dos caminhantes. Saudade da exceção e do comum. De momentos cotidianos, dos “bom dia”, do ‘até breve”, de conversas banais com pessoas que não foram simplesmente pessoas. Saudades de dias que pareciam não ter fim, de noites que pareciam não amanhecer, de tempos vestidos de eternidade. E que passaram, não voltam jamais.

Também sinto saudade do presente. De pessoas que ainda vejo, de cheiros que ainda sinto, de vozes que ainda falam em meus ouvidos. Saudade antecipada daquilo que me fará falta, deixará lacuna. Sinto saudade de momentos quando percebo que eles irão passar, assim como a vida que nasce e renasce a cada instante dentro do coração. Saudade da brisa, do luar, do som da chuva, do canto dos pássaros, das pegadas na rua, das vibrações do coração contente, feliz.

Sinto saudade do horizonte futuro. De tudo que, por mais que eu viva e me entregue, jamais será vivido o suficiente para me satisfazer e não me deixar com gosto de quero mais. Sinto saudade de tempos que virão e, como todos os tempos que vieram (e um dia também foram conjugados no futuro), também passarão.

Sim, sentir saudades é sinal de sorte, mas também deve ser, certamente, sinal de que algo corre pelas veias (algo que não é apenas sangue). Deve ser indicativo de que a vida não está passando alheia, desavisada, sem por que. Saudades é sinal de que vida está com razão de ser, de que o outro está valendo a pena, de que a gente está vivo, lembrando, sangrando e esperando o próximo encontro, o próximo abraço apertado, o próximo momento para sentir saudade.

Se pudesse escolher, eu gostaria, sim, de sentir saudade, sempre. Desejo que cada dia vivido me deixe marcas inesquecíveis, doa-me no futuro, faça-me sofrer. Às vezes, a dor não é dor, a dor é amor – e por isso dói tanto. Quero ter a sorte de encontrar gente que me cative a ponto de deixar marcas, de viver uma vida que me deixe com vontade de viver mais, de passar por tempos intensos, que acabem no exato momento em que tiverem que acabar, mas que permanecerão comigo, no correr da vida, como uma eterna saudade. Quero as saudades, porque são elas que me fazem crer que viver vale a pena.

7 comentários:

Nilceia Campos Fialho disse...

Querida Prof.ª Lessa, como é bom ler um texto teu. essa tua capacidade singela e sabia de traduzir a vida. Que belo texto esse da saudade! Lindo, Lindo!
Eu diria mais: saudades é, principalmente, entender que nada se vai por acaso, e que tudo que nos pertence, retorna a nossa vida, no momento certo.
Saudades não se define, não se entende... se vive e aceita.

Leticia Fontinele castro disse...

Professora Luisa Lessa, eu adoro os seus textos, eles tocam na minha alma como essa da SAUDADE. Lindo.
Confesso um segredo, um dia me peguei dizendo, num desabafo sincero e repentino: "estou com muita saudade..., mas acho que é de mim". Aconteceu como um insight. Veio bem de dentro e eu disse. E era verdade. Saudade de mim em muitas passagens da vida. Digo isso porque nós mudamos no tempo. Parabéns pelo belo texto. Um abraço. Letícia Fontinele Castro.

Eunice D'Avila disse...

Professora Luisa, eu também já senti muita saudade de mim, ainda sinto. Encontrei muita correspondência nesse texto. Obrigada por trazer-me essa preciosidade.

Alma Acreana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alma Acreana disse...

Profa. Luísa,
Posso dizer que vejo neste texto nacos de sua alma, de sua gentileza, de seu amor por aqueles que, de um jeito ou de outro, cruzam o seu caminho. Aqui não vejo a frieza do computador, mas sinto o pulsar do coração, é vida que lateja! Quando José Mauro de Vasconcelos escreveu Meu Pé de Laranja Lima ele disse que o copilou em 12 dias, mas ali estava encerrado mais de 20 anos de sua vida. Seu texto deixa transparecer isso.
Quanto à saudade, gosto do que F. Pessoa uma vez disse:
“Saudades! Tenho-as até do que me não foi nada, por uma angústia da fuga do tempo e uma doença do mistério da vida”

Um forte abraço! Cheio de saudades!

Luisa Lessa disse...

Querido Isaac, sempre uma alegria a inter-locução contigo. Tens absoluta razão, as palavras são espelhos d'alma. Assim, o texto traduz a minha imensa saudade que não cabe nesse espaço. Obrigada por ser meu amigo, obrigada pela saudade tua e minha.

PEPE disse...

esse texto nao so me fez sentir saudade mas ,tambem me fez chorar pois, a saudade é muita .que texto magnifico somente uma pessoa de alma pura e magnifica conseguiria escrever tao lindamente,nao te conhece mais passei a te admirar

A vida da gente é feita assim: um dia o elogio, no outro a crítica. A arte de analisar o trabalho de alguém é uma tarefa um pouco árdua porque mexe diretamente com o ego do receptor, seja ele leitor crítico ou não crítico. Por isso, espero que os visitantes deste blog LINGUAGEM E CULTURA tenham coerência para discordar ou não das observações que aqui sejam feitas, mas que não deixem de expressar, em hipótese alguma, seus pontos de vista, para que aproveitemos esse espaço, não como um ambiente de “alfinetadas” e “assopradas”, mas de simultâneas, inéditas e inesquecíveis trocas de experiências.