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sábado, 1 de junho de 2013

O BRASIL DAS SUPERSTIÇÕES E CRENDICES

 

Há, entre o povo brasileiro uma mistura singular de superstições e crendices, a ponto de não se saber onde começa a crendice e ou a superstição. E, embora as crenças populares sejam supersticiosas, não se deve confundir superstição com crendice. Por exemplo, acreditar em bruxas, almas penadas, fantasmas, não é superstição. Superstição é quando uma pessoa atribui a certos fatos, ou criaturas, animais ou coisas, poderes maléficos ou benéficos, dependendo de  circunstâncias variáveis. Ex.: encontrar um gato preto não tem importância, mas se ele correr na nossa frente é que dá azar.

As superstições participam da própria essência intelectual humana e não há momento da história do mundo sem sua inevitável presença. A elevação dos padrões de vida, o domínio da máquina, a cidade industrial ou tumultuosa, em sua grandeza assombrosa, são tantos viveiros de superstições, velhas, renovadas e readaptadas às necessidades da vida. Assim, todas as profissões têm o seu “corpus” supersticioso, e aqueles que confessam sua independência absoluta da superstição são porque não chegaram no instante da confidência reveladora.

A superstição é sempre de caráter defensivo, respeitada para evitar mal maior ou distanciar sua efetivação. Os sinais exteriores são os amuletos que, incontáveis, transformam-se em adornos, jóias e vivem na elegância universal dos dias. Essa legítima defesa estende-se às zonas mais íntimas do raciocínio humano e age independente de sua ação e rumo. A própria etimologia latina mostra que superstição é uma sobrevivência em sua preservação: Superstição [Do lat. superstitione.] Sf. 1. Sentimento religioso baseado no temor ou na ignorância, e que induz ao conhecimento de falsos deveres, ao receio de coisas fantásticas e à confiança em coisas ineficazes. Enquanto Crendice,[De crer; formação irreg.] Sf. 1. Crença em presságios tirados de fatos puramente fortuitos; 2. Apego exagerado e/ou infundado a qualquer coisa.

As superstições, como os pecados, podem dar-se por pensamentos, palavras e atos.  Por exemplo: por pensamento – Fazer três pedidos quando se vê uma estrela cadente; por palavras – dizer Isola! Quando alguém se referir a um malefício acontecido a outra pessoa; por atos – levantar da cama com o pé direito para que o dia lhe seja benéfico.

A idéia da superstição é ambivalente, pois existe a crença de que há sempre meios de anular a força positiva ou negativa de qualquer elemento. Se isso acontece, deve-se fazer aquilo para prevenir o mal, ou realizar tais práticas ou trazer objetos especiais. Ex.: Quando a gente encontra ou fala com pessoa que dá azar, convém bater na madeira ou fazer figa com a mão. Daí o apelo a talismãs, amuletos, esconjuros, orações e todo um arsenal supersticioso, muitos dos quais servem não só para nos defender do azar ou mau-olhado, como para projetá-lo nos inimigos ou desafetos, como os espelhinhos dos chapéus dos dançadores de Reisado.

As Crendices podem referir-se às variadas manifestações do folclore espiritual, como: fantasmas, duendes, figuras míticas e assombrações, com também a ritos religiosos católicos ou fetichistas. Ex.: acreditar que Santo Onofre evita a embriaguez ou não deixa faltar dinheiro na carteira; que Santa Bárbara afasta as tempestades; assim como crer em orações fortes, medalhas, rosários, crucifixos, patuás etc. Existem crendices e superstições referentes à natureza: sol, lua, estrelas. Apontar para estrela faz nascer verruga na ponta do dedo. Ou então acerca da água, da chuva, dos ventos ou das nuvens. Ex.: moça que come na panela, chove no dia do casamento. O sol cura tersol.

Existem muitas outras crendices, em meio ao povo brasileiro: jogar moedas para fora de casa à meia-noite atrai riqueza para todos que moram nela; No último dia do ano, é bom fazer uma bela limpeza na casa, varrendo-a de trás para frente. O lixo deve ser colocado para fora, assim como todo e qualquer objeto quebrado. Lâmpadas queimadas precisam ser trocadas. Nada de roupas guardadas do avesso; Usar lençóis limpos, na primeira noite do ano, deixa os possíveis problemas do ano que passou na máquina de lavar; Para acabar com os problemas de coluna, basta colocar na noite de Ano Novo um pedaço de cana, da altura da pessoa, debaixo da cama; Para ter sorte no amor, à meia-noite, você deve, em primeiro lugar, cumprimentar uma pessoa do sexo oposto; Folha do trevo de quatro folhas é sinal de sorte, dinheiro que vai chegar no bolso.

Observa-se que tanto as crendices quanto às superstições se encontram relacionadas com as plantas, animais, fogo, objetos,acontecimentos meteorológicos, enfim, tudo o que nos rodeia. Desse modo, as superstições e as crendices existem tanto em pessoas das esferas populares, quanto nas camadas mais elevadas da sociedade, e quando elas não são consequência do medo, o são de crenças tradicionais, muitas das quais se perdem nas noites dos séculos, derivando, por vezes, de arquétipos milenares.

DICAS DE GRAMÁTICA

FEBRE ALTA EXISTE, PROFESSORA?
- Na medicina gramatical não existe febre alta nem febre baixa. Na verdade, toda febre é temperatura alta. Então basta dizer: Ele não tem febre ou ele tem febre.
A ENFERMEIRA PODE TIRAR A PRESSÃO DO PACIENTE?

- Olha, se ela fizer isso o paciente morre. O que ela deve fazer, seguindo orientação médica, é medir a pressão do paciente.
ENTREGA EM DOMICÍLIO ou ENTREGA A DOMICÍLIO ?

- Entrega em domicílio é o certo, segundo a gramática normativa, porque "entregar não é verbo de movimento" e porque se diz "entrega em casa".
Então está equivocada a propaganda do Supermercado Gonçalves, com entrega a domicílio. Deverá dizer: O Gonçalves entrega em domicílio.

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A vida da gente é feita assim: um dia o elogio, no outro a crítica. A arte de analisar o trabalho de alguém é uma tarefa um pouco árdua porque mexe diretamente com o ego do receptor, seja ele leitor crítico ou não crítico. Por isso, espero que os visitantes deste blog LINGUAGEM E CULTURA tenham coerência para discordar ou não das observações que aqui sejam feitas, mas que não deixem de expressar, em hipótese alguma, seus pontos de vista, para que aproveitemos esse espaço, não como um ambiente de “alfinetadas” e “assopradas”, mas de simultâneas, inéditas e inesquecíveis trocas de experiências.