A ACADEMIA ACREANA DE LETRAS NO CONTEXTO SOCIOCULTURAL DO ACRE
Prof.ª Dr.ª Luísa Karlberg
Presidente da Academia Acreana de Letras - AAL
A
Diretoria da Academia Acreana de Letras enfrenta gigantescos desafios a serem
superados. Neste texto iremos esboçar um desenho da Instituição Literária mais
importante que possui o Estado do Acre. Em seus 82 anos de fundação tem seu
acervo histórico jogado no lixão da Fundação Elias Mansour. Todos os diálogos
possíveis, com gestores públicos, a Diretoria procura construir, nem sempre
alcança resultados positivos. Esse precioso acervo, entulhado em sacos
plásticos, desde a gestão passada, não pode fenecer sem o apoio governamental.
Está na Constituição Brasileira o dever do Estado em zelar por patrimônio
histórico-cultural. A Academia Acreana de Letras – AAL, nasceu no Palácio Rio
Branco, em 1937. No decorrer de quase um século, se tornou mendiga. Ora, quando
uma instituição do porte da AAL, que abriga as mentes mais brilhantes no campo
da literatura chega a vir a público, pedir socorro, é porque e situação se
tornou insuportável. Esse texto não será somente de lamentos, mas, em especial,
mostrar à sociedade e ao Governo do Acre o papel da AAL no contexto
sociocultural do Estado do Acre.
A
nossa missão é zelar pelo idioma pátrio, apoiar e incentivar a literatura de
expressão nacional. É uma atividade por demais difícil. Vejamos: no Brasil, a
leitura não é uma atividade comum, justamente porque os brasileiros não possuem
esse hábito. A Academia tem que fazer um trabalho de incentivo e valorização
dos escritores e, com isso, criar espaços, em meio à população, para a cultura
do livro. É um desafio quando a maioria da população não gosta de leitura. Mas
é preciso que as pessoas compreendam que ler é um processo de produção de
significados e sentidos. É a capacidade de decodificação, onde tudo que for
lido tem que ser decodificado para fazer sentido na vida. É a leitura, aliada
ao trabalho, que dá dignidade às pessoas. Assim, uma instituição que carrega
essa missão deverá ser abraçada por toda gente do Acre, em especial do Governo,
o gestor maior, eleito para promover o bem social, o crescimento e
amadurecimento da sociedade. Nenhum projeto será bem sucedido sem a aliança com
a cultura, as letras, a literatura. Por que é assim? Por que a alma de um povo
é traduzida pela literatura e cultura de livros.
Ademais,
não se pode perder de vista que a Língua Portuguesa é um instrumento
facilitador da organização do pensamento. Uma pessoa que possui o conhecimento
da estrutura do idioma, que tem plena consciência do que está sendo dito,
automaticamente pensa melhor. Pensando melhor, ela argumenta melhor. E, se
argumenta melhor, milita melhor nas causas em que acredita. O idioma pátrio é
um instrumento poderoso. Quando o brasileiro conhece bem a estrutura da língua
e sabe articular com certa fluência e consciência o que está sendo dito, por
consequência, passa a ser o operador mais dinâmico nesse processo e a ser mais
bem sucedido nos seus objetivos e projetos.
É
fato que a maioria dos professores e educadores tentam incentivar a leitura nas
escolas, mas a juventude atual, com raras exceções, gosta de outros eventos e
abomina a leitura, uma atividade essencial para adquirir conhecimento e
informações sobre todas as coisas existentes no mundo. A AAL é uma instituição
que poderá ajudar o Acre nesse mundo da leitura/escrita/literatura de forma
modelar. A AAL abriga os maiores escritores do Acre, romancistas, poetas,
cronistas, cientistas, professores, pesquisadores, cordelistas, jornalistas,
historiadores, uma plêiade capaz de mudar a realidade educacional e cultural do
Acre.
Quando
se fala em literatura, para os jovens, eles fazem cara feia, não querem saber
de livros, preferem imagens. Porém, é urgente mostrar aos estudantes que a
literatura nos mostra como a vida era antes, ou seja, como vivia a sociedade de
outros tempos e, ainda, como vive a sociedade atual. Os autores escrevem para a
sociedade de cada época, no intuito de a sociedade refletir sobre o tempo em
que vive e atuar para melhorar. Por este motivo, a literatura tem sido mais um
componente presente em provas do ENEM, pois além de trazer conhecimento da
época em que a obra foi escrita, conduz, também, à reflexão do tempo atual.
As
leituras frequentes são formas de aprimorar não só o vocabulário, mas, também,
a gramática e o domínio da língua portuguesa, modo geral. São exigências
capitais do falante/escritor: saber concordar, saber reger, saber pronunciar e
saber usar corretamente as palavras. É doloroso ouvir profissionais dizerem
“existe muitas pessoas” ou “Eu lhe encontrei ontem”, ou pronunciar “récorde” no
lugar de “recorde”, a palavra corretamente proparoxítona. Só há um meio de
dominar o idioma: estudando e, sempre, sempre, prestando atenção ao que se fala
e ao que se escreve.
Outro
aspecto, intimamente ligado com a leitura/escrita está relacionado
à educação. E, neste caso, o Brasil falece de condições e políticas de estímulo
à leitura e à escrita. Embora haja diversos programas e grupos empenhados em
reverter essa situação, o país ainda está longe de alcançar as metas desejadas.
Somente nos grandes centros nós vemos a produção, publicação e divulgação dos
autores e, mesmo assim, permanecendo inacessíveis a muitos grupos sociais.
Comprar livro tornou-se um hábito de luxo. Publicar uma obra é muito custoso.
Não se tem uma política para publicação de obras e de incentivo aos escritores.
Todavia,
em meio aos percalços mercadológicos, educacionais, sociais e históricos,
percebe-se um aumento significativo nos últimos anos. A AAL já publicou mais de
100 títulos. Isso acontece porque o autor deseja ter sua obra impressa, em
forma de livro, arca com essa publicação e a AAL possui um Editor voluntário, o
Dr. Eduardo carneiro. Após o livro editado, terá o autor que sair fazendo a
divulgação porque o país não possui uma política de cultura do livro e de apoio
aos escritores.
O
Brasil conta, hoje, com a Câmara Brasileira do Livro, órgão sem fins
lucrativos, que atua na promoção do mercado editorial brasileiro. A CBL é
responsável, desde 1959, pelo prêmio Jabuti, maior premiação de literatura
no território, que premia, anualmente, desde romances a livros didáticos e
projetos gráficos. Mas é somente isso, nada mais. É muito pouco para o muito
que precisa ser feito pela cultura do livro, da leitura, do escritor. O Acre
nunca instituiu um prêmio literário, e já se vão algumas décadas. Somente a AAL
tem 82 anos e nunca pode criar um prêmio por não ter recursos. E esses recursos
financeiros deveriam fazer parte do texto Constitucional do Estado. Onde estão
nossos Deputados que não olham isso?!
Mas
voltemos à questão da Academia Acreana de Letras – AAL, uma instituição que tem
82 anos e nunca possuiu sede. Não dispõe de um funcionário e nem de recursos
para cumprir a sua finalidade precípua, mencionada alhures. E não tem sido por
desinteresse dos imortais, mas por total negligência dos poderes públicos que
têm o dever constitucional de zelar pela educação, pelo idioma, pela cultura,
como patrimônios da nação. Outro dia, por ocasião da eleição da Diretoria da
AAL, no Centro Cultural do TJAC, fomos surpreendidos por um advogado, o Dr.
Ildefonso Menezes, que veio ao nosso encontro para doar um terreno para
construção da sede da Academia Acreana de Letras. Ele se sentiu tão comovido,
ao ler no jornal A Gazeta, que a AAL, com 82 anos, não tinha sede. Foi um
momento tão singular em que quase todos nós choramos. Mas ainda não podemos
tomar posse da terra, por questões extremadas da burocracia e negligência de
autoridades. É mesmo algo desanimador.
Então,
postas essas questões acima, que a sociedade conhece, acresce dizer que a
língua nacional é a mais autêntica forma de expressão do espírito humano.
Quem não conhece o próprio idioma acaba não se fazendo comunicar e não se
entendendo a si mesmo. Ofícios, cartas, relatórios, teses, dissertações,
artigos, científicos ou não, assim com toda produção que envolve o processo
comunicativo, de natureza burocrática, acadêmica ou não, são meios de o
indivíduo atuar na sociedade. Não saber produzi-los é limitar as pessoas
enquanto agentes sociais. E, aqui no Acre, a Academia Acreana de Letras muito
poderia realizar em prol desses conhecimentos, isso porque nossa meta maior é o
culto ao idioma pátrio. Necessitamos dialogar com as instituições e, sobretudo,
apoiar o Governo (em todas as esferas), nas suas ações. Mas, para isso,
necessitamos ser convocados e mostrar o desperdício de recursos humanos que
cometem os gestores do Acre. Mesmo assim, com todo esse descuido, a nossa
imortalidade sustenta-se nos nossos feitos que ficarão para as gerações
futuras. Necessitamos que a sociedade abrace a Academia Acreana de Letras para
que nós possamos contribuir, grandemente, com o desenvolvimento do Acre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário