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domingo, 12 de julho de 2009

A TRAIÇÃO NA CULTURA BRASILEIRA


O comportamento humano é mutável de uma cultura para outra. Há povos que aceitam a poligamia, outros não. Também há comunidades onde um homem pode conviver com mais de uma mulher, ou uma mulher com mais de um homem, ao mesmo tempo, sem cometer adultério. Já em outras culturas as relações mantidas fora do casamento ganham o nome de traição, adultério. O que vem a ser, então, traição e adultério?

A palavra traição, do lat. traditione, entrega, segundo o dicionário de Aurélio Buarque significa:1.Ato ou efeito de trair (se). 2. Crime de quem, perfidamente, entrega, denuncia ou vende alguém ou alguma coisa ao inimigo. 3. Perfídia, deslealdade, aleivosia. 4. Infidelidade no amor. Logo, uma pessoa que trai outra, no casamento, comete adultério. E, assim, atenta contra os costumes do lugar.

O adultério, do latim adulterui, no Brasil, significa infidelidade conjugal, amantismo, prevaricação. E, segundo o Art. 240 do Código Penal Brasileiro, o adultério ainda é um crime contra a família e o casamento. Se um dos cônjuges mantém relação sexual com uma terceira pessoa, fica sujeito a uma pena de quinze dias a seis meses de detenção. Para enquadrar o(a) parceiro(a) nesta lei, o(a) traído(a) deve ter provas do flagrante e denunciá-lo(a) no prazo máximo de um mês. A traição pode ser o motivo de uma reparação de dano moral.

Dada a definição dos termos, não se pode confundir traição e adultério. O adultério é caracterizado pela infração ao dever de fidelidade recíproca no casamento e constitui não só crime previsto no Código Penal Brasileiro, como também dá motivo à separação judicial, na órbita civil. O adultério consuma-se com a prática do inequívoco ato sexual. O art. 2º, da Lei nº 9278, de 10/05/96, estabeleceu direitos e deveres iguais para os conviventes, ou seja, para aqueles que vivem em união estável (não casados). No entanto, não há adultério na união estável.

Diferentemente, a traição possui conceito mais amplo, não se restringindo ao casamento, à união estável, ao ato sexual consumado, mas a todo o relacionamento humano, como nas amizades, negócios, política, guerras etc. O art. 159, do Código Civil Brasileiro, adverte: “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”. O dano é tratado em sentido amplo, ilimitado, irrestrito.
Vê-se, então, que a traição fere os direitos concernentes aos valores próprios do ser humano, que se projetam nos sentimentos. A violação das obrigações oriundas do casamento ou da união estável acarreta prejuízo moral ao cônjuge ou ao convivente; enquanto a traição resulta em dano moral, quando leva o nome do(a) traído(a) a situações embaraçosas, vexatórias.

Nesse campo da traição há algo novo do “ar”. A partir de 2.001, se alguém quiser trair a esposa ou o marido, mesmo pela Internet, é melhor tomar cuidado. A traição pode custar caro. O novo Código Civil Brasileiro está se aprimorando, com várias novidades. Uma delas é a obrigatoriedade de indenização para a pessoa traída, mesmo que tenha sido uma traição virtual, ou pelos sites de bate-papo. Com isso, desamor e traição no casamento podem gerar indenização para a pessoa prejudicada.

Na cultura brasileira, repressora e patriarcal, a traição é mais comum entre homens -- embora as mulheres a escondam melhor -- que são educados para não desperdiçarem nenhuma oportunidade de demonstrarem a masculinidade, muitas vezes confundida com o desempenho sexual. Apesar de condenada pela igreja, a infidelidade masculina foi aceita socialmente, com a velha e boa desculpa de instinto do “macho”. Por isso, talvez, na jurisprudência brasileira, o homem, quando trai não perde nada. Já a mulher, pode até perder a guarda dos filhos e o direito a pensão.

De tudo aqui posto, há um princípio universal e seguir: o respeito à dignidade humana. Pois tanto a traição quanto à infidelidade atentam contra as normas do bom viver. Trair é enganar, atraiçoar, denunciar, delatar, ser infiel. A traição e a infidelidade geram dor, angústia, sofrimento, desgosto, revolta, constrangimento. Traição e infidelidade são ofensas graves, ferem os direitos concernentes aos valores próprios do ser humano, que se projetam nos seus sentimentos. E, num respeito à vida, ao outro, o dever de cada um é não trair, não ser infiel. E, assim, se terá uma boa base à construção da felicidade.

DICAS DE GRAMÁTICA
COMO EMPREGAR "ESTA" e "ESTÁ"; HOUVE e OUVE, PROFESSORA?
Da seguinte forma:
Esta caneta que está aqui é sua?
Esta - pronome demonstrativo, pois indica o lugar ou a posição dos seres e objetos em relação à pessoa que fala.
Está - verbo estar - indica um estado ou qualidade.
Observe o uso:
a. Esta casa é minha.
b. Minha casa está pintada de azul.
c. Esta é a pessoa da qual falei.
d. A pessoa da qual falei está vestida de azul.
Houve e Ouve
Observe: Houve um tempo em que ele ouvia as pessoas.
Ouve: verbo ouvir, escutar.
Houve: verbo haver, no sentido de acontecer, existir, sair-se bem ou mal.
Observe o uso:
a. Fale mais alto. Ele não ouve muito bem.
b. Em 1865 houve uma guerra entre o Brasil e o Paraguai.
c. Ele se houve muito bem nas últimas provas.
d. Fale mais perto e baixinho, senão ela ouve o segredo.

4 comentários:

FRANCO disse...

Eu fico um pouco incomodado quando se analisa homens e mulheres como iguais, isso só leva a erros de interpretação o que complica ainda mais o entendimento da realidade. poligamia em geral é formada por um homem e várias mulheres o contrário é raro e muito pontual, por razões particulares e não culturais.

hanner54321@hotmail.com disse...

Em minha opinião, o problema é que viemos de uma cultura onde os homens podiam fazer o que quiser, e as mulheres, por suas condições, se viam obrigadas a aceitar tudo. Acredito que hoje, para se ter um homem mais fiel, as mulheres deveriam perdoar menos, não se vigar (ser pouco confiáveis piora a situação das mulheres), mas deixar claro que não toleram traição, mesmo em um simples namorico. Isso faria os homens que amam suas mulheres e prezam suas famílias serem mais cuidadosos ou pensarem duas vezes antes de trair, devido às consequências. Não é difícil perceber que os homens que traem não temem perder suas esposas, pois eles acreditam serão perdoados.

Luísa Galvão Lessa Karlberg disse...

Franco,

Do ponto de vista Constituicional homens e mulheres são iguais. Acontece que no aspecto da fidelidade, parece-me que os homens traem mais e as mulheres escondem melhor a traição, concorda?
Depois, há no texto, uma passagem bem explicativa sobre tua argumentação, a seguinte:
"Apesar de condenada pela igreja, a infidelidade masculina foi aceita socialmente, com a velha e boa desculpa de instinto do “macho”. Por isso, talvez, na jurisprudência brasileira, o homem, quando trai não perde nada. Já a mulher, pode até perder a guarda dos filhos e o direito a pensão."
Acho que a sociedade precisa mudar em maior velocidade.
Obrigada pela interlocução.
Luísa

Luísa Galvão Lessa Karlberg disse...

hanner, Você tem absoluta razão, as mulheres precisam ser mais exigentes. O mundo mudou bastante, mas ainda é pouco para o que precisa ser feito em termos de igualdade entre homens e mulheres.
Os homens precisam dar mais valor á família, primar pelo casamento, consolidar os laços que devem ser duradouros; a mulher, deve ater-se ao papel que a sociedade está a exiger dela, afinal ela funciona como o termômetro social.
Obrigada pela interlocução.
At.
Luísa

A vida da gente é feita assim: um dia o elogio, no outro a crítica. A arte de analisar o trabalho de alguém é uma tarefa um pouco árdua porque mexe diretamente com o ego do receptor, seja ele leitor crítico ou não crítico. Por isso, espero que os visitantes deste blog LINGUAGEM E CULTURA tenham coerência para discordar ou não das observações que aqui sejam feitas, mas que não deixem de expressar, em hipótese alguma, seus pontos de vista, para que aproveitemos esse espaço, não como um ambiente de “alfinetadas” e “assopradas”, mas de simultâneas, inéditas e inesquecíveis trocas de experiências.