Hoje é o dia comemorativo do professor. Muitos acham não ter o que comemorar, isso porque não ganham altos salários. Outros acreditam ser um dia de Graças para um abnegado profissional que prepara para o mercado de trabalho as profissões do mundo. É uma tarefa grandiosa, bendita, sagrada. Por isso, então, não é o salário que faz o professor, mas a missão que ele carrega consigo como educador do mundo.
Albert Einstein já dizia que a tarefa essencial do professor é despertar a alegria de trabalhar e de conhecer. Essa filosofia tece a vida de muitos colegas professores que, assim como eu, fazem da cátedra um altar. Em meio a tantos pensamentos e correntes, no cotidiano das práticas educativas, dois comportamentos modulares podem caracterizar esse precioso profissional do magistério: a) os que assumem o predomínio das características do papel de professores instrutores; b) os que se comprometem, essencialmente, com os propósitos de professores educadores.
Numa reflexão sobre esses dois eixos e, ainda, com o eco nos ouvidos daquilo que ouvi e li no dia de ontem, trago posições que podem assumir um professor: instrutor ou educador. Então, quem é você, querido colega?
O professor instrutor | O professor educador |
O professor instrutor cumpre obrigações. | O professor educador celebra paixões. |
O professor instrutor superestima o quantitativo, mercantiliza o humano. | O professor educador realça a busca do qualitativo, da globalidade do ser, da dignidade e da beleza humana; conduz à vocação, à voz do coração. |
O professor instrutor assume a função de mero transmissor e reprodutor dos saberes instituídos submetendo os indivíduos aos ditames estabelecidos, ao adestramento e à domesticação. | O professor educador passa pelo já instituído e busca instituir novos saberes e sentires procurando rasgar os papéis e as máscaras que empacotam e escondem, instigando a autenticidade, o espírito criador e transgressivo. |
O professor instrutor circunscreve-se na geometria do tempo linear do chronos. | O professor educador descortina-se pelas curvas do tempo dinâmico do kairós. |
O professor instrutor dá aulas previsíveis, insípidas e frias. | O professor educador tece aulas imprevisíveis, abertas ao fluxo das aventuras, ruminando o saber com sabor, convertendo-as em vivências vívidas e encantantes. |
O professor instrutor percorre os caminhos já feitos do ordinário, mais fáceis e cômodos. | O professor educador ousa as veredas ainda não trilhadas, mais desafiantes e difíceis, inaugurando caminhos novos, extraordinários. |
O professor instrutor obedece aos receituários das liturgias mecânicas e cristalizadas, com suas normas e ordens asfixiantes. | O professor educador ultrapassa as receitas desodorizadas e move-se pelas buscas dinâmicas das transformações constantes e emancipadoras entre ordem e caos. |
O professor instrutor transmite saberes. | O professor educador rumina saberes e busca sorver sabedorias. |
O professor instrutor erige suas práticas pedagógicas com lógicas monológicas, metálicas e excludentes. | O professor educador fundamenta-se em lógicas dialógicas, flexíveis e includentes. |
O professor instrutor dita conteúdos para que os alunos copiem e assimilem de modo reflexo. | O professor educador problematiza conteúdos para que os alunos reflitam e compreendam criticamente. |
O professor instrutor encampa modelos uniformes lastreados em certezas fixas. | O professor educador articula múltiplas referências fundadas em possibilidades abertas, em incertezas. |
O professor instrutor privilegia o logos, a cognição, a mente. | O professor educador entrelaça logos e eros, cognição e intuição, mente e corpo. |
O professor instrutor reduz-se aos muros/muralhas da escola, da sala de aula. | O professor educador transpõe esses limites trespassando os horizontes expansivos do cotidiano movente da vida |
O professor instrutor professa voto de fidelidade às alianças cultuadoras das burocracias que tendem à domesticação e à subjugação. | O professor educador concebe a necessidade mínima de burocracia, sendo esta, mero instrumento que deve estar a serviço dos direitos e liberdades fundamentais do ser humano. |
O professor instrutor busca as competências técnica e teórica, a inteligência cognitiva. | O professor educador busca as competências técnica e teórica, mas, principalmente, as competências éticas e estéticas, as inteligências cognitiva, intuitiva e emocional. |
O professor instrutor tende à intolerância e até ao abuso de poder, fala muito e quase não escuta. | O professor educador prima pelos princípios da tolerância, da ética da solidariedade e da escuta sensível. |
O professor instrutor prima pelos vãos do ter. | O professor educador prima pelos desvãos do ser. |
O professor instrutor busca a reluzência das performances externas dos indivíduos. | O professor educador passa pela exterioridade como caminho que conduz às dimensões mais profundas da interioridade do ser, ao autoconhecimento. |
O professor instrutor acomoda-se nas linhas retas e regulares das planícies | O professor educador aventura-se pelas curvas e acidentalidades das montanhas. |
O professor instrutor habitua-se à rotina das tartarugas e das galinhas que rastejam e ciscam a superfície da terra. | O professor educador, como a águia, nutre-se das energias da terra e alça seus voos bailantes pelos ermos do incomensurável. |
O professor instrutor privilegia o desenvolvimento das dimensões mais instintivas que traduzem os aspectos mais materialistas do ser humano, as quais, isoladas, fomentam o espírito de competição e de arrogância que desembocam em brutalização e barbárie. | O professor educador assume as múltiplas dimensões do humano, passando pelo instinto e atingindo o coração e o espírito de fineza fomentando a solidariedade e a amorosidade. |
O professor instrutor confina o humano apenas à esfera do material/físico, do imediato e do visível (pedagogia do São Tomé). | O professor educador educa para a imanência e para a transcendência, para o invisível, para os valores humanos – a espiritualidade. |
Sei que a arte de ensinar é uma tarefa difícil demais para que alguém se envolva nela por comodismo, falta de melhor opção, ou porque é preciso auferir ganhos. É verdade que o Brasil precisa avançar no campo educacional, dignificar os educadores. Também o professor deste século XXI necessita fazer por merecer os loiros de uma profissão que deve elaborar, com criatividade, conhecimentos teóricos e críticos sobre a realidade.
Assim, quer queiram, quer não, somente os professores poderão apontar caminhos institucionais (coletivamente) para enfrentamento das novas demandas do mundo contemporâneo, com competência do conhecimento, com profissionalismo ético e consciência política.
2 comentários:
Professora, esse texto é belíssimo, fiquei emocionado pela percepção que tem como educadora. Fantástica visão, obrigado por ofertar tão belo texto para nós educadores.
Abraços,
Nilo Ilzamar Batista
Ah! Professora, desculpe o comentário, mas a senhora não é somente inteligente, é, também, muito bonita.
Nilo Batista
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