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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

CONCEPÇÃO NEGATIVA DA POBREZA





Nutro aversão aos discursos articulados e políticos em relação à pobreza material das pessoas. Tenho consciência da delicadeza do tema e da condição de vida que a pobreza material imputa à humanidade. Há, todavia, ao lado dessa chaga social, a pobreza espiritual que empobrece, vilmente, o mundo dos pobres e dos ricos.
Acredito, no sutil entendimento de pessoa humana, ser a pobreza espiritual a maior de todas as pobrezas. Tem-se, aqui, a vilania, a covardia e a desnudez disfarçadas sob um véu de falsidade, de fraquezas, de opções de vida que envergonham a nós seres humanos, nascidos no seio de uma família e participantes do corpo social da comunidade.
         Esses “pobres espirituais” agem segundo os interesses pessoais mais escusos, atropelam o código da ética, da moral, do trabalho e do convívio social. São figuras que ocupam espaços, que tomam como seus, dentro do corpo social, como a lei a serviço dos interesses pessoais. Lidar com essas “criaturas” é uma questão para a psicologia, a sociologia, às ciências médicas ou para as leis penais. Pois se trata, na verdade, senão de atos criminosos, pela infâmia como são praticados, mas de uma anomalia que o Estado de Direito deve olhar com certa urgência, para assegurar direitos fundamentais à sociedade.
Valor humano
- no mundo globalizado, um dos temas que vem merecendo articulados discursos é justamente aquele referente à concepção negativa que se tem de pobreza e o menosprezo que a sociedade tem pelos pobres. Aqui, o homem passa a valer pelos bens materiais que possui e não pela pessoa humana que é. Ou ainda, pelo peso político que representa no corpo social e não por sua presença enquanto cidadão no seio da sociedade. Assim, em termos de uma definição, no sentido de existência e de ressurreição social, para a prosperidade econômica e a sociedade de consumo, a pobreza é percebida como um eco ou expressão de uma condição humana degradante.
A tradição cristã
- estudos recentes, realizados em países desenvolvidos, demonstram que essa atitude humana de olhar a pobreza, sob o ponto de vista material, constitui uma ruptura com toda a concepção pré-industrial da pobreza, particularmente na ldade Média. A tradição cristã e todas as grandes religiões fizeram da pobreza um estatuto de santificação, enquanto a riqueza não era um valor nos antigos modelos sócio-culturais. Só bem mais tarde a noção de assistência é substituída pelo da integração.

       Essa mudança não é apenas semântica, pois procura integrar, na pluralidade da realidade social, a ideia de um “direito” a uma vida decente, que a democracia deve assegurar a todo cidadão. Essa reivindicação de novos direitos e novas formas de solidariedade inscrevem-se no aprofundamento da noção de direitos do homem.
Condição humana humilhante
- a pobreza como um sigma, leva à Sociologia a afirmar que ela evoca uma condição humana humilhante. Nesse sentido, distinguem-se três níveis de pobreza, que formam ciclos concêntricos: 1) primeiro, aquele que inclui todos os pobres, qualificados em relação ao seu baixo nível de renda; 2) segundo, aquele que reagrupa os pobres que se beneficiam de certa alocação social; 3) terceiro, o reúne os que recebem, ocasionalmente uma alocação, mas ao mesmo tempo são considerados como pessoas depravadas e mal formadas. O estigma da degradação, de maneira tradicional, confunde a pobreza com a prática de atos ilícitos. Uma vida fundada sobre a exclusão social constitui a verdadeira definição da pobreza.

Pelas ideias aqui postas e por outras implícitas, no texto de hoje, compreende-se a importância de uma luta contra todas as formas de exclusão, numa sociedade que deve defender a verdadeira eficácia dos “Direitos do Homem”. E todas essas “coisas”, mazelas do cotidiano, passam por um processo educacional. Assim, pobre é também a nação que despreza os professores.

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A vida da gente é feita assim: um dia o elogio, no outro a crítica. A arte de analisar o trabalho de alguém é uma tarefa um pouco árdua porque mexe diretamente com o ego do receptor, seja ele leitor crítico ou não crítico. Por isso, espero que os visitantes deste blog LINGUAGEM E CULTURA tenham coerência para discordar ou não das observações que aqui sejam feitas, mas que não deixem de expressar, em hipótese alguma, seus pontos de vista, para que aproveitemos esse espaço, não como um ambiente de “alfinetadas” e “assopradas”, mas de simultâneas, inéditas e inesquecíveis trocas de experiências.