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terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O FRACASSO ESCOLAR BRASILEIRO









          O fracasso escolar é um tema inquietante, pois é o maior problema para o sistema educacional brasileiro. Dentro e fora das escolas muito se fala sobre isso, mas poucas políticas têm atuado para dirimir esse drama no país. E o maior erro que se fez, nos últimos tempos, creio, foi aquele de o professor não poder reprovar o aluno.
          Entendo que o MEC, maior parte das vezes, para se livrar de sua imensa responsabilidade, procura outros culpados, tais como a pobreza, desnutrição, fome, desagregação familiar, etc, para justificar essa gralha social. Desse modo, procura alguém para assumir esse fracasso que só pertence ao Sistema Educacional Brasileiro, sistema econômico, político e social. Mas será que existe mesmo um culpado pela não aprendizagem? Se a aprendizagem acontece em um vínculo, se ela é um processo que ocorre entre subjetividade, nunca uma única pessoa poderá ser culpada.
          De acordo com o dicionário Aurélio ‘fracasso’ é definido por um mau êxito, uma ruína. Mas mau êxito em quê? Baseado em qual parâmetro? E o que a sociedade define como sucesso? São questões que devem ficar bem esclarecidas. Sabemos que os seres humanos nascem com uma tendência hábil para a aprendizagem. A criança está pronta para aprender quando ela apresenta um conjunto de condições, capacidades, habilidades, e aptidões consideradas como pré-requisito para o início de qualquer aprendizagem.
         De acordo com (OLIVEIRA, 1999) “prontidão” para aprender significa o conjunto de habilidades que a criança deverá desenvolver de modo a tornar-se capaz de executar determinadas atividades. Já Olds e Papalia, (2000) afirmam que para estabelecer se houve ou não aprendizagem é preciso que as mudanças ocorridas sejam relativamente permanentes. Existem pelo menos sete fatores fundamentais para que tal aprendizagem se efetive, são eles: saúde física e mental, motivação, prévio domínio, amadurecimento, inteligência, concentração ou atenção e memória. A falta de um desses fatores pode ser a causa de insucessos e das dificuldades de aprendizagem.
         O conceito de dificuldades de aprendizagem é abrangente e inclui problemas decorrentes do sistema educacional, de características próprias do individuo e de influências ambientais. Do mesmo modo, segundo Paín (1992) "os problemas de aprendizagem são aqueles que se superpõem ao baixo nível intelectual, não permitindo ao sujeito aproveitar as suas possibilidades".
Muitas são as crianças e os adolescentes que hoje, no contexto sociocultural brasileiro, apresentam dificuldades no processo de aprendizagem. Tais dificuldades, nas classes sociais menos favorecidas, se agravam ainda mais, pois a criança carrega, desde muito cedo, o estigma de menos capaz ao contexto e às exigências escolares. Logo esse jovem estudante é rotulado como deficiente, determinado pelas condições precárias de sua vida.
         Por isso, para alguns teóricos, dente eles Fernandez (2001), a sociedade do êxito educa e domestica. Seus valores e mitos, relativos à aprendizagem, muitas vezes levam muitos estudantes ao fracasso. Em nosso sistema educacional, o conhecimento é considerado conteúdo, uma informação a ser transmitida. As atividades visam à assimilação de conteúdos, impossibilitando assim o processo de autoria do pensamento.
          É fácil para nós educadores observar que este caráter informativo da educação, que se manifesta até mesmo nos livros didáticos, quando o aluno é levado a memorizar conteúdos e não pensá-los, não ocorrendo de fato uma aprendizagem.
Para a autora Cordié (1996), a criança está em situação de fracasso escolar quando não “acompanha" o que é proposto no programa escolar e os colegas da classe. Esse fato acaba por afetar a construção do sujeito em sua totalidade. Ele passa a carregar consigo o estigma de "repetente", "atrasado", "lento", "incapaz", o que pode levá-lo a acreditar no próprio fracasso. Os alunos que se enquadram neste perfil assumem o papel de fracassados e acabam por transpor isso para sua vida pessoal, fato que compromete seu futuro enquanto cidadão. Todavia não será a não reprovação que irá solucionar esse gargalo e sim à compreensão das individualidades e competências.
         Diante desta realidade, na visão de Pimenta (1995), é certo que cabe ao professor rever posicionamentos endurecidos, questionar crenças arraigadas, confrontar posicionamentos imutáveis e isso implica na compreensão do "aluno-problema" como porta voz das relações estabelecidas em sala de aula. Pode-se perceber, claramente, que muitas vezes não é o aluno que não se encaixa no que nós professores oferecemos, somos nós professores que, de certa forma, não nos adequamos às potencialidades dos alunos. Assim, antes de falar em fracasso escolar é preciso analisar o fracasso do sistema educacional para atender tantas individualidades e potencialidades.
          O "não-aprender", nos moldes impostos pelo social, vem sendo tratado como distúrbios, fracassos e patologias em geral. O motivo pode ser a concentração do processo pedagógico na "falta de talento" do sujeito, ou seja, o processo de aprendizagem não estimula talentos distintos, centrando-se no esperado e moldado com regras e valores. O diferente, nesse contexto, passa a ser em primeiro lugar negado e, em seguida, estigmatizado. O sistema educacional brasileiro necessita, urgentemente, estimular talentos ao invés de ‘taxar’ estudantes de ‘incapazes’.
           Nós, professores, ao realizarmos nossa atuação docente, elaborando vínculos afetivos com este ser que aprende, mesmo que não deseje aprender naquele momento, por alguma circunstância, certamente estaremos fazendo a parte que nos cabe: prepará-lo para operar autonomamente seu futuro, usando sua cabeça para pensar em alternativas viáveis para os problemas da sua sociedade, seu coração para sentir as exigências e apelos sociais e suas mãos para agir em prol do bem comum. Afinal, é para isso que serve a educação.

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A vida da gente é feita assim: um dia o elogio, no outro a crítica. A arte de analisar o trabalho de alguém é uma tarefa um pouco árdua porque mexe diretamente com o ego do receptor, seja ele leitor crítico ou não crítico. Por isso, espero que os visitantes deste blog LINGUAGEM E CULTURA tenham coerência para discordar ou não das observações que aqui sejam feitas, mas que não deixem de expressar, em hipótese alguma, seus pontos de vista, para que aproveitemos esse espaço, não como um ambiente de “alfinetadas” e “assopradas”, mas de simultâneas, inéditas e inesquecíveis trocas de experiências.