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domingo, 15 de setembro de 2013

Do igarapé Humaitá, Seringal São Luís –Tarauacá/Acre – para Issac Melo

Do igarapé Humaitá, Seringal São Luís –Tarauacá/Acre – para Isaac Melo

Estimado Isaac Melo,

Eu agradeço por cada palavra tua. E, neste texto, eu me curvo diante de ti, um homem que tem por berço a imensa Selva Amazônica. Talvez, por isso, tens essa tamanha grandeza e generosidade. Sabes como se faz para alcançar os frutos no alto das árvores e vencer os medos da misteriosa floresta que embalou nossas vida. Minha eterna gratidão.

Um abraço faternal.

Luísa

Caríssima Luísa,

Deixei este texto como homenagem a seu trabalho e a você. Veja com mais detalhe lá no “Alma Acreana”. Eis aqui um fragmento:

"Segundo a etimologia, Luísa, palavra de origem germânica, significa “guerreira gloriosa”, “combatente famosa” ou mesmo “famosa nas batalhas”. Neste caso, vemos como faz jus a seu nome, a professora Luísa Galvão Lessa Karlberg, nascida nas cabeceiras do igarapé Humaitá, afluente do rio Muru, de onde se levava oito dias de barco até atingir Tarauacá. E nossa guerreira teve que se pôr em marcha, e enfrentar as mais diversas batalhas. Formou-se em Letras, fez mestrado, doutorado e pós-doutorado no Canadá. E pouco a pouco fora se tornando famosa nas batalhas; e mais que famosa, a guerreira amada. Porque não é a batalha que torna grande o guerreiro; é antes o guerreiro que faz ser grandiosa e memorável a batalha. E o amor? O amor fora a arma por excelência dessa guerreira. Amor que brota generoso de seu coração como água de igarapé, tal como aquele que tanto a banhou. Amor, cuja expressão, foi, sobretudo, uma vida dedicada à educação. E como fez saber certo poeta, “a alma vive mais onde ama que no corpo que ela anima”. O educador é um amante por excellence. Ele não dá a asa pronta. Ele é o vento necessário que impulsiona para o voo. Não é o ‘sabedor’, é o desperta ardor. Foi o velho Rui Barbosa quem disse que um sabedor não é um armário de sabedoria armazenada, mas transformador reflexivo de aquisições digeridas. Mas, como só o mau artista se contenta com a obra que faz, a professora Luisa vê seu trabalho como algo sempre a melhorar. É a primeira crítica do próprio trabalho. Por isso, não se tornou uma sedentária do saber, mas uma sedenta de saberes e uma peregrina da vida. E é da vida que retira o seu material de saber, com o qual tece o viver. E, aqui, me faz lembrar aquele poeta lisboeta: “e os meus versos são eu não poder estoirar de viver”. Seus textos são extravasamento de vida. Não é um texto para demonstrar erudição, que, deveras, não lhe falta. É uma professora que ama, que se dá por meio do que escreve, do que ensina, do que vive."

clip_image001Barrancas do Humaitá --- isso aqui se chama “selva”.

A GUERREIRA GLORIOSA clip_image003

Segundo a etimologia, Luísa, palavra de origem germânica, significa “guerreira gloriosa”, “combatente famosa” ou mesmo “famosa nas batalhas”. Neste caso, vemos como faz jus a seu nome, a professora Luísa Galvão Lessa, nascida nas cabeceiras do igarapé Humaitá, afluente do rio Muru, de onde se levava oito dias de barco até atingir Tarauacá. E nossa guerreira teve que se pôr em marcha, e enfrentar as mais diversas batalhas. Formou-se em Letras, fez mestrado, doutorado e pós-doutorado no Canadá. E pouco a pouco fora se tornando famosa nas batalhas; e mais que famosa, a guerreira amada. Porque não é a batalha que torna grande o guerreiro; é antes o guerreiro que faz ser grandiosa e memorável a batalha. E o amor? O amor fora a arma por excelência dessa guerreira. Amor que brota generoso de seu coração como água de igarapé, tal como aquele que tanto a banhou. Amor, cuja expressão, foi, sobretudo, uma vida dedicada à educação. E como fez saber certo poeta, “a alma vive mais onde ama que no corpo que ela anima”. O educador é um amante par excellence. Ele não dá a asa pronta. Ele é o vento necessário  que impulsiona para o voo. Não é o ‘sabedor’, é o desperta ardor. Foi o velho Rui Barbosa quem disse que um sabedor não é um armário de sabedoria armazenada, mas transformador reflexivo de aquisições digeridas. Mas, como só o mau artista se contenta com a obra que faz, a professora Luisa vê seu trabalho como algo sempre a melhorar. É a primeira crítica do próprio trabalho. Por isso, não se tornou uma sedentária do saber, mas uma sedenta de saberes e uma peregrina da vida. E é da vida que retira o seu material de saber, com o qual tece o viver. E, aqui, me faz lembrar aquele poeta lisboeta: “e os meus versos são eu não poder estoirar de viver”. Seus textos são extravasamento de vida. Não é um texto para demonstrar erudição, que, deveras, não lhe falta. É uma professora que ama, que se dá por meio do que escreve, do que ensina, do que vive. 

Atualmente a professora Luísa Lessa pertence à Academia Acreana de Letras, à Academia Brasileira de Filologia, e teve alguns de seus textos adotados pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Nutro uma profunda admiração pela professora Luísa. Dela retiro a lição: os grandes homens, as grandes mulheres não nascem prontos. Fazem-se. E tantas vezes a ferro e fogo. Mesmo que exerça alguma influência, não podemos fazer do meio e das condições sócio-econômicas desculpas para o fracasso de nossas vidas. Somos aquilo que podemos ser, que queremos ser e que nos permitimos ser. Como dizia o nosso geógrafo Milton Santos, os orgãos da inteligência são dois: o cérebro e a bunda. É sentar, e ler, ler, ler... no entanto, como nos faz saber Luísa, sem descuidar do amor, “pois só quem ama escutou o apelo da eternidade”.

Do igarapé Humaitá, Seringal São Luís –Tarauacá/Acre – para Issac Melo (brilhante jornalista e escritor)

Estimado conterrâneo Isaac Melo,

As tuas palavras tocaram profundamente o meu coração. Não resisti a tanta emoção e as lágrimas banharam meu rosto. Mas, felizmente, elas não são de tristeza, pelo contrário, são de intensa gratidão a ti e à vida que me deu tão bons e fraternos amigos. Encontro em ti – um brilhante jovem de Tarauacá – a compreensão às minhas palavras “Memória para a posteridade”. É, de fato, um grito da “Alma Acreana” para outra alma irmã.

E tu sabes, meu nobre amigo, que nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer. Esse sentimento sempre me moveu. A vida exige de nós - o tempo todo - uma grande capacidade de adaptação, mudanças, enfretamentos, superação. E aqueles que temem a mudança nunca vão adiante, levam uma vida estática por medo de novos desafios decorrentes da nossa existência.

Eu sempre procurei superar os desafios desde muito jovem. Sai de casa aos seis anos de idade para um colégio alemão. Agarrava-me às pernas de meu pai para não ir e ele dizia: “filha, é preciso ir, estudar é a grande saída”. Foi aí que comecei a aprender a transformar sentimentos menos elevados em prol da grandeza da vida, da escola, do conhecimento.Compreendi, desde cedo, que o caminho do coração é o caminho da coragem. Deixar o passado para trás e deixar o futuro SER. Também aprendi que a vida é perigosa, mas somente os covardes podem evitar o perigo, mas aí já estão mortos. Somente quem nasceu no seio da Floresta Amazônica – como eu e tu, dentre tantos outros – sabe o significado dessa palavra CORAGEM. Ela é interessante, vem da raiz cor, que significa coração. Portanto, ser corajoso significa viver com o coração. E os fracos, somente os fracos vivem com a cabeça. Receosos, eles criam em torno deles uma segurança baseada na lógica. Com medo, fecham todas as janelas e portas - com teologia, conceitos, palavras, teorias - e do lado de dentro dessas portas e janelas fechadas, eles se escondem.Nós não nos escondemos. Eu, assim como tu, fomos à luta, ‘caímos no mundo’, como se diz popularmente.

Por isso, para nós, a coragem é por em risco o conhecido em favor do desconhecido, o familiar em favor do estranho, o confortável em favor do desconfortável. É um jogo arriscado, duro, mas somente os destemidos sabem o que é a vida. Ela não brinca, não aceita piadas. Ela é “pão, pão, queijo, queijo”. O nós, nesta vida, estamos, sempre, frente ao desconhecido, não temos ‘bola de cristal’, mas fazemos por acertar, porque agimos com amor, alma limpa.

Decepções fazem parte da vida, como disse, não nasci póstuma. Foram as decepções que me ensinaram o caminho das pedras. Muitos dias tropecei, cai, chorei. N’outros caminhei tranquila, talvez passando pelas mesmas pedras, mas com os pés fortalecidos pelos ensinamentos das duras e difíceis caminhadas.

De tudo que vivi e ainda vivo, eu confesso que por vezes sinto solidão. É nestas horas que eu penso no ‘meu igarapé Humaitá’, minhas raízes, aí ergo-me na certeza que nunca vou me deixar abater, não por soberba, mas pela coragem de alguém que bebeu as daquelas águas turvas e, anos mais tarde, caminhou às margens do rio Danúbio, um sonho de infância.

Aristóteles disse “Eu chamo de bravo aquele que ultrapassou seus desejos, e não aquele que venceu seus inimigos; pois a mais dura das vitórias é a vitória sobre si mesmo”.

Finalmente, meu prezado conterrâneo e amigo, para enxugar o meu pranto, neste momento de intensa emoção – vejo um filme com muitas histórias – eu te digo o seguinte: o Amor e a Ternura são sentimentos revolucionários, eles sempre deram norte a minha vida. Eu amo a família, os raros amigos, minha sublime profissão. Desta última fiz meus votos de fé. Tem dado certo. E o melhor de tudo é que embora nós dois estejamos distantes, estamos nos olhando sempre.  Como diz Guimarães Rosas"...o mais importante e bonito do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. E nós, ao que tudo indica, temos afinado a canção tarauacaense. Que Deus te ilumine e te abençoe.

Grande abraço,

Luísa

clip_image005Tarauacá.

2 comentários:

Alma Acreana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alma Acreana disse...

Querida Luísa,
fico profundamente lisonjeado por suas palavras. Oxalá esteja eu à altura delas. No entanto, vindas de você, sei que são sinceras. E acolho-as como um grande prêmio. O que torna nossas almas semelhantes é mais que o caráter histórico-territorial a que pertencemos, o que, para nós, não é pouco. Irmanamo-nos porque antes de tudo amamos a sabedoria, o ser humano e as coisas simples e autênticas da vida. Você e eu somos filhos de seringal, irmãos das matas, dos pássaros, das águas. Deves lembrar como é altaneira e majestosa as samaúmas de nossa terra. E quem imagina que suas sementes sejam tão pequenas e leves, que, quando rompe a vagem que as envolve, são levadas pelo sopro manso floresta adentro. O itinerário humano, penso, é semelhante ao da samaúma. Nascer pequeno, no húmus, até agigantar-se, sem, todavia, desarraigar daquela humildade primordial. Você, minha amiga, é grande. Mas não cultiva a grandeza para si, e nisso reside verdadeiramente a sua grandeza. Há tantas pessoas por aí repletas de títulos e ensoberbadas de si. Eles são seus títulos, e nada mais. Enquanto você, e tantos outros, nos oferece a sua alma, aquilo que são. Uma alma prenhe de ciência e amor. E ainda que “falássemos a língua dos homens e dos anjos se não tivéssemos amor” toda a melodia de nossa vida não passaria de um ruído desagradável. Quero pensar a vida como uma canção. Cada um é uma nota. O que faz uma bela melodia é a harmonia das diferentes notas. É pobre demais a canção e as vidas de uma nota só. A canção humana se torna mais bela com a multiplicidade de nossas almas a se cruzar. Tantas vezes os corpos físicos estão distantes, mas as almas dançam juntas onde quer que estejam. Só o coração vai aonde os olhos não alcançam.
Se me destes a honra de chamá-la de amiga, permita dizer também minha mestra. Sede de sabedoria lateja em mim, e encontro, em você, uma fonte, um igarapé abundante. Desculpe minhas pobres palavras, disse o autor de ‘Doutor Fausto’ que o essencial não se ajusta inteiramente às palavras. E penso ter ele razão. No mais, sigo o conselho de Proust, o de que devemos ser gratos às pessoas que nos propiciam felicidade, pois são elas os encantadores jardineiros que nos fazem florir a alma.


Bebeu palavras preciosas,
Seu espírito cresceu forte.
Não mais sentiu que era pobre
E sua estrutura pó.
Em dias sombrios dança
E este legado de asas
Não foi mais que um livro. Um só.
Que voo sereno e certo
O de um pássaro liberto!

Emily Dickinson

A vida da gente é feita assim: um dia o elogio, no outro a crítica. A arte de analisar o trabalho de alguém é uma tarefa um pouco árdua porque mexe diretamente com o ego do receptor, seja ele leitor crítico ou não crítico. Por isso, espero que os visitantes deste blog LINGUAGEM E CULTURA tenham coerência para discordar ou não das observações que aqui sejam feitas, mas que não deixem de expressar, em hipótese alguma, seus pontos de vista, para que aproveitemos esse espaço, não como um ambiente de “alfinetadas” e “assopradas”, mas de simultâneas, inéditas e inesquecíveis trocas de experiências.